Protesto de mulheres contra a violência em Belo Horizonte -  (crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Protesto de mulheres contra a violência em Belo Horizonte

crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press

Tanto dentro de casa quanto nos bairros, a sensação de insegurança no Brasil é maior entre as mulheres que entre os homens. Nos domicílios, 11,3% do público feminino se disse inseguro ou muito inseguro ante 9,1% do masculino. Nos arredores das residências, 29,5% das mulheres relatam falta de segurança, enquanto o mesmo ocorre entre 23,6% dos homens. O dado foi divulgado nesta quarta-feira (6/12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como parte da Síntese de Indicadores Sociais (SIS): uma análise das condições de vida da população brasileira.

Os números mostram que, de uma forma geral, a sensação de insegurança aumenta nos bairros em relação aos domicílios. Ainda assim, nos dois cenários as mulheres relatam estar menos seguras que os homens. Os dados foram levantados a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) realizada em 2021.

Para o técnico do IBGE e responsável pelo “Capítulo 3 - Condições de Moradia, da Síntese dos Indicadores Sociais” da SIS, Bruno Perez, os dados da pesquisa colocam números em uma situação de desigualdade de gênero evidente e apontam para uma condição limitadora da qualidade de vida das mulheres.

“De forma geral, as mulheres e os homens residem nos mesmos domicílios e nas mesmas regiões. Você não tem uma distribuição geográfica diferente, não existe um bairro que concentra mulheres e outro que concentra homens. É uma questão das mulheres de fato se sentirem mais inseguras, às vezes no próprio domicílio em que ela reside com um filho ou o marido que talvez não tenham relatado essa sensação de insegurança. Esse é um indicador de qualidade de vida. A pessoa que vive com uma sensação de insegurança tem uma limitação clara na qualidade de vida dela, por ter receio de sair na rua, por exemplo. Esse é um indicador importante de desigualdade de gênero”, afirma.

De acordo com Perez, os resultados podem municiar políticas públicas para mitigar os efeitos da desigualdade de gênero no âmbito da segurança pública. Ele ressalta que, embora a metodologia da pesquisa não permita garantir quais são os riscos aos quais as mulheres relatam estar submetidas, é possível inferir porque elas se sentem menos seguras que os homens tanto dentro de casa quanto nos arredores da sua residência.

“A pesquisa não pergunta exatamente do que a pessoa tem medo apenas se ela se sente segura. Mas acho que é razoável supor, por exemplo, que essa sensação de insegurança está ligada a crimes que atingem tipicamente as mulheres. A violência doméstica pode ser um fator para que elas se sintam menos seguras no próprio domicílio mesmo em relação aos outros moradores. A questão da violência sexual, que atinge em grande maioria as mulheres, pode ajudar a explicar também por que as mulheres relatam sentir mais medo de circular no bairro do que, eventualmente, seu marido ou seu filho. A partir daí, podemos ter políticas públicas específicas para esse problema”, comenta.

Em um recorte racial, a sensação de insegurança é ainda maior entre as brasileiras negras. Dentro dos domicílios, 7,7% dos homens brancos se disseram inseguros ou muito inseguros, sensação compartilhada entre 10,2% dos homens pretos ou pardos; 9,1% das mulheres brancas; e 13,3% das mulheres pretas ou pardas.

Recorte racial e interseções

A pesquisa também revela que a sensação de segurança é maior entre brancos. De uma forma geral, 8,5% dos brasileiros brancos se disseram inseguros ou muito inseguros dentro dos domicílios e 23,8% nos bairros. Já entre pretos e pardos, 11,9% se dizem inseguros ou muito inseguros em casa e 29,2% nos arredores da residência.

Bruno Perez destaca que o resultado do recorte por cor está correlacionado a outros destacamentos da pesquisa, como os que avaliam a sensação de segurança a partir da localização geográfica e da renda mensal das famílias.

“A gente também analisa que a sensação de insegurança está relacionada a um menor rendimento, especialmente nos domicílios. Como você tem uma concentração da população preta ou parda em domicílios de menor rendimento, talvez isso tenha influenciado no resultado. O mesmo vale para para a distribuição populacional da população preta ou parda, que é maior no Norte e Nordeste, onde foi relatada uma maior sensação de insegurança. Isso é somado à questão do racismo e da desigualdade, que já abordamos em outras publicações e que influencia no resultado”, ressaltou.