Que o Natal é uma das datas mais celebradas do mundo, todos sabem. É só chegar o fim de novembro que o espírito natalino toma conta das pessoas, as cores vermelho e verde transformam as decorações das casas e dos espaços públicos, assim como presépios são montados e Papais Noéis passam a habitar o imaginário das crianças.
Entretanto, a data tem uma origem muito distante do que habita nosso imaginário nos dias de hoje, como a festa cristã que celebra o nascimento de Jesus. Poucos elementos das festas originais conseguiram sobreviver ao tempo e às mudanças culturais, entre eles, o espírito de renovação e união.
Origem pagã
Uma vez que na antiguidade os calendários e festividades eram regidos pelos ciclos da colheita e, consequentemente, das estações do ano, festas celebradas com o intuito de celebrar a renovação e a expectativa de uma primavera farta eram comuns em dezembro, auge do inverno no hemisfério norte.
Acredita-se que duas destas festas lançaram as bases para o que viria a ser o Natal: A festa pagã da Saturnália e a Natalis Solis Invicti (nascimento do Sol invicto). Não por acaso, ambas celebradas em Roma, local onde o critianismo ganharia força e expandiria para o resto do mundo.
A Saturnália era uma festa em homenagem ao deus Saturno, o equivalente a Cronos para os gregos, e era a divindade ligada ao tempo, à renovação e à fertilidade. Ela acontecia entre os dias 17 e 25 de dezembro e celebrava o solstício de inverno, assim como o fim do período de escassez devido ao frio e o prenúncio da primavera e sua fartura.
“No Hemisfério Norte era muito esperada essa noite mais longa, porque isso queria dizer que era o pico do inverno. Depois dali os dias iam ficando maiores e o frio ia diminuindo, até que chegaria a primavera, que seria um alívio, porque o inverno no hemisfério norte era um período de escassez. Então as pessoas tinham muito medo de passar fome, caso o inverno se prolongasse demais”, explica Cláudio Paixão, professor da Escola de Ciências da Informação da UFMG, doutor em psicologia social e coordenador do Gabinete de Estudos Da Informação e do Imaginário da UFMG.
Esta festividade era marcada pela abundância de alimentos e pela troca de presentes, assim como o incentivo à procriação, o que também aproxima a Saturnália com o carnaval, outra festa que viria a pertencer ao calendário católico.
Além da Saturnália, a Natalis Solis Invicti, celebração associada à vitória do Sol contra a escuridão e levada a Roma pelos soldados romanos que atuaram na Pérsia, também era celebrada no dia 25 de dezembro.
“A festa da Saturnalia se junta com uma outra tradição, a tradição mitraica, que os soldados romanos trouxeram da Pérsia com o nome de Sol Invictus, ou Sol Invencível, que depois de uma longa batalha contra o inverno vencia”, conta Paixão.
Nascimento de Jesus
Não é claro como o processo de sincretismo ocorreu no início do primeiro milênio, nem qual seria o real dia que o menino Jesus teria nascido mas, a partir do seu nascimento, há um movimento de separação dentro do judaísmo e o subsequente surgimento do cristianismo. Com a fé cristã ganhando cada vez mais espaço no Império Romano, no século 4 o Papa Júlio I decretou a solenidade do Natal em 25 de dezembro.
“Na busca por identidade eles (os primeiros cristãos) acabam deslocando o centro de poder deles para Roma. Então começa uma campanha muito boa de marketing, que começa com Paulo de Tarso, ou São Paulo, que começa a “vender” o cristianismo para os romanos e assim começa esse sincretismo. O romano entra no cristianismo, mas acaba levando um pouco de si e essas coisas vão se misturando”, explica Paixão.
Elementos simbólicos
Com o sincretismo entre as festividades romanas e cristãs, o Natal passa a ser uma festa oficialmente religiosa e apresentar elementos como a ceia e a troca de presentes foram absorvidas da Saturnália, além da luz, que representa a esperança, e se originou com o Sol Invicto. Com o passar do tempo, outros símbolos foram sendo agregados.
A tradicional árvore de natal também tem origem nas festividades pagãs. Uma vez que o pinheiro é uma das poucas espécies de árvores que não perde as folhas durante o inverno, ela representava resistência e esperança durante a escassez, sendo usada como decoração nas casas onde o inverno era muito rigoroso.
Já o presépio, que representa Jesus em uma manjedoura, ladeado por Maria e José, e recebendo a visita dos três Reis Magos, foi criado por São Francisco de Assis no século 13. Como santo que devotou sua vida à simplicidade e à pobreza, sua intenção foi criar uma forma de mostrar aos mais pobres e analfabetos a história do nascimento de Cristo. A ideia se popularizou e hoje faz parte das tradições natalinas.
O mais recente símbolo do Natal a ser incorporado às tradições foi o Papai Noel, uma grande junção de várias culturas. Segundo Paixão, a maior influência teria vindo do São Nicolau, um bispo turco do século 3. Na época, as jovens tinham apenas três possíveis destinos: se casarem, se tornarem freiras ou a prostituição. A fim de salvar as jovens da prostituição, São Nicolau distribuía dinheiro para famílias pobres terem a condição de dar um dote às filhas.
Outra grande influência vem da mitologia nórdica. Diz a lenda que Odin, deus dos deuses nórdicos e pai de Thor, presenteava as crianças na véspera do Yule, festa medieval pagã que acontecia no dia 21 de dezembro e comemorava a chegada do inverno no norte da Europa.
Na Holanda há a figura do SinterKlaas, um velhinho de longas barbas brancas vestido de vermelho e branco muito baseado no São Nicolau, que distribui biscoitos e doces para as crianças. Essa versão foi levada para os Estados Unidos pelos holandeses e rebatizada de Santa Claus, sendo posteriormente difundida no Brasil durante o século 20 e aqui chamada de Papai Noel.