Para além de ser apontado como líder máximo da maior milícia do Rio de Janeiro, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, 44, era procurado por suspeita de mandar matar o ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, e ter tentáculos na política e segurança pública.
Ele se entregou à Polícia Federal, na tarde de domingo (24/12), após negociação entre a sua defesa e os investigadores.
Era procurado desde 2018, quando foi denunciado por lavar o dinheiro das extorsões praticadas por milicianos na zona oeste da cidade. Para isso, segundo a Promotoria, utilizava uma empresa de terraplanagem. Na Justiça, contudo, foi absolvido dessa acusação.
Apesar dessa absolvição, ele passou a ter 12 mandados de prisão pendentes por crimes relacionados à organização, que desde 2010 era liderada por sua família, conhecida como Família Braga. Sua advogada, Leonella Viera, nega as acusações.
Zinho seria o terceiro líder da família a assumir o cargo de comando da milícia, de acordo com investigações.
O primeiro teria sido seu irmão, Carlos da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes, em 2010. Policiais apontam que ele era ex-traficante da facção TCP (Terceiro Comando Puro) e teria formado uma das primeiras narcomilícias do estado ao unir traficantes da favela Três Pontes, em Santa Cruz, e milicianos da região.
Implementou na milícia uma estética baseada em filmes mafiosos, utilizava cordões de ouro e fumava charutos cubanos, tal qual Tony Montana, personagem de Al Pacino em Scarface, disse um policial. O líder miliciano foi morto em 2017 em uma ação da polícia.
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Após sua morte, outro irmão teria assumido: Wellington da Silva Braga, o Ecko. Ele também foi morto em uma ação policial, em 2021. Zinho estava em uma casa perto e conseguiu fugir.
Outra fuga do homem apontado como líder da milícia foi ainda mais cinematográfica. Em outubro de 2023, o sobrinho de Zinho, Matheus da Silva Rezende, o Faustão, foi morto em operação policial. Investigadores acreditam que o líder, sabendo que estava perto de ser capturado, determinou a maior queima de ônibus da história do Rio de Janeiro. Na ocasião, 35 coletivos foram incendiados para facilitar sua fuga.
Faustão estava sendo treinado para ser o sucessor, afirmam investigadores. A queimas de coletivos em diferentes bairros da zona oeste ocasionou um prejuízo de R$ 35 milhões.
A primeira prisão de Zinho ocorreu em 2015 por porte ilegal de arma, mas ele foi solto no plantão judiciário. O motivo do pedido da defesa foi a não realização da audiência de custódia. Na época, Zinho era visto somente como mais um membro da quadrilha.
Já em 2017, já era apontado como um miliciano expressivo, segundo a polícia, ocasião em que foi preso novamente. Uma investigação apontou que, após um suposto pagamento de propina, seu depoimento teria sido apagado do sistema da Polícia Civil e ele foi posto em liberdade.
A informação só foi revelada um ano depois, quando a Promotoria desencadeou a Operação Quarto Elemento, que levou dois delegados à prisão. Na época, um colaborador afirmou que, já dentro da delegacia, um delegado teria exigido R$ 20 mil para a soltura do preso.
Zinho teria retrucado, ainda segundo o colaborador, que seu irmão, líder miliciano, já tinha um acerto de pagamento com a delegacia "para não mexer com o pessoal da milícia". Mesmo assim, teria pago. A investigação apontou ainda que, quando os outros policiais denunciados tomaram conhecimento da ação, foram pessoalmente pedir desculpas pela prisão e devolveram o dinheiro.
Em 2022, os policiais que foram denunciados sob suspeita de auxiliar o grupo de Zinho foram condenados -entre eles, dois delegados. A condenação ocorreu pois, segundo a Justiça, eles obtinham informações sobre pessoas envolvidas com atividades ilícitas para exigir dinheiro para que elas não fossem presas. Os agentes recorrem da condenação.
Mais recentemente, Zinho foi denunciado sob suspeita de ser mandante da morte do ex-vereador Jerominho, em 2021. O político já foi condenado por formar a primeira milícia da região, chamada Liga da Justiça, que deu origem à milícia da Família Braga.
A última ação envolvendo Zinho ocorreu no último dia 18, quando o Tribunal de Justiça afastou a deputada estadual Lúcia Helena Pinto de Barros (PSD), a Lucinha. Ela é acusada de ser o braço político de Zinho e teria influenciado a partir do seu cargo tentativas de mudanças de comandantes de batalhões policiais que combatiam a quadrilha, por exemplo. Sua defesa nega.