Maceió vive o terceiro dia de incertezas em relação ao risco iminente de colapso de uma mina de exploração de sal-gema, controlada pela empresa Braskem no bairro do Mutange.

Este é um dos cinco bairros afetados pelos problemas em Maceió desde 2018, quando surgiram as primeiras rachaduras.

Desde quarta-feira (29/11), quando a Defesa Civil do município emitiu alerta para o possível colapso, famílias já foram retiradas de suas residências. A BBC News Brasil ouviu relatos de pessoas que contam terem sido retiradas à força de suas casas.

Na manhã desta sexta-feira (01/12), o ministro dos Transportes e senador licenciado de Alagoas Renan Filho atribuiu a responsabilidade à Braskem.

"A responsabilidade da Braskem é total. No Brasil, a legislação ambiental impõe o crime a quem o pratica. Quem praticou esse desastre ambiental foi a Braskem. Ela própria diz, em reiteradas manifestações, que já investiu R$ 15 bilhões em indenizações e tentativas de estabilização. Antes da investigação, eles negaram, tentaram colocar a responsabilidade em outras empresas e disseram que não era com eles. Mas não teve como; tecnicamente, ficou claro", disse ele.

Questionada pela reportagem da BBC, a empresa não se manifestou sobre a declaração do ministro.

Para a Braskem, no entanto, existe a possibilidade de uma "acomodação gradual" da mina, até de uma eventual estabilização. Segundo a empresa, 99,3% dos imóveis na área de risco já foram desocupados.

Qual é a causa do problema?

O problema foi causado pela exploração de sal-gema, de acordo com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) em 2019. A mineração teria causado uma instabilidade no solo.

As primeiras rachaduras surgiram em fevereiro de 2018, no bairro do Pinheiro.

Em março, um tremor de magnitude 2,5 foi registrado e mais rachaduras e crateras apareceram no solo, causando danos irreversíveis a imóveis.

A evacuação foi iniciada em junho de 2019 para moradores de Pinheiro, Mutange e Bebedouro. Nos últimos anos, com o agravamento dos problemas, parte do Bom Parto e do Farol foram incluídos na zona de risco.

A mina 18, localizada no bairro do Mutange, é a que corre risco de colapso. Foram registrados cinco tremores de terra somente em novembro.

De acordo com nota da Defesa Civil de Maceió, divulgada na manhã desta sexta-feira, a mina já cedeu 1,42m e está decaindo a uma velocidade de 2,6 cm por hora.

As comunicações pedindo precaução começaram na quarta, com SMS e avisos à população, além de visitas do órgão às casas.

Foram identificadas no total 35 cavidades (buracos usados na mineração).

A Braskem afirma que:

  • Em 9 cavidades, a recomendação foi de serem preenchidas com areia;
  • Destas, 5 completaram o preenchimento;
  • Em 3, o processo está em andamento e uma está pressurizada, sinalizando que não é mais necessário o preenchimento com areia;
  • Em outras 5 cavidades, houve autopreenchimento;
  • As restantes 21 cavidades estão sendo fechadas ou monitoradas, com 7 delas já concluídas;
  • As atividades para preencher a cavidade 18 estavam em andamento e foram suspensas preventivamente devido à movimentação atípica no solo.
REUTERS/Jonathan Lins
Foto aérea mostra vizinhança que precisou ser evacuada em Maceió

Como a exploração começou (e terminou)?

A mineração foi iniciada em Maceió nos anos 1970, por meio da Salgema Indústrias Químicas S/A. Ela se tornaria a Braskem anos depois. O sal-gema era utilizado para a produção de soda cáustica e PVC, e a exploração era autorizada pelo poder público.

A partir de 2019, a Braskem interrompeu completamente a exploração do sal-gema em Maceió e passou a trabalhar para o fechamento e estabilização de todas as minas.

Quantas pessoas já foram afetadas?

Desde 2018 até o momento, mais de 14 mil imóveis precisaram ser evacuados, afetando cerca de 60 mil pessoas. Os bairros se tornaram desertos, chamados de "bairros fantasmas".

O que acontece agora?

De acordo com a Braskem, existem duas possibilidades: uma "acomodação gradual" e até a estabilização ou uma "acomodação abrupta", que seria o colapso.

Em caso de colapso, acredita-se quea água da Lagoa Mundaú poderia se tornar salgada, com impacto direto para a fauna e flora locais.

"Se o teto dela [mina] vier a desabar, essa cavidade chega até a superfície, e se ela chegar dentro da lagoa, aí a gente tem consequências mais preocupantes, como um aumento de salinização dessa água e vai impactar toda a área de mangue de forma bastante trágica", disse o coordenador geral da Defesa Civil de Maceió, Abelardo Nobre, na última quarta-feira (29).

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