Um momento muitas vezes desconfortável como o de uma audiência de justiça pode se tornar mais ou menos receptivo para o cidadão a depender de quem senta no posto mais alto da negociação. Nos últimos meses, casos de abuso de poder por parte de juízes tem contribuído para criar uma visão negativa que afasta pessoas de buscar seus direitos pelo simples medo de ficar cara a cara com um magistrado. No entanto, na contramão disso, o juiz federal Kleiton Ferreira, da 9ª Vara Federal de Propriá (SE), mostra que os depoimentos podem sim ser mais descontraídos para aliviar as tensões.



Com quase 400 mil seguidores no Instagram, o magistrado natural de Arapiraca (AL) publica recortes dos diálogos, onde brinca com os assistidos. Em um deles, Kleiton elogia os óculos escuros de uma senhora. “É estiloso esse óculos da senhora [...] Parecendo uma daquelas artistas de cinema”.

Na audiência em que foi retirado o trecho, uma senhora busca pensão após o falecimento do ex-marido, do qual ela cuidou até os últimos dias. Na hora da sentença, o juiz ainda brinca que o marido “aprontou muito”, mas pelo menos ela conseguiu a pensão.

Em outro vídeo, a requerente revela que está nervosa com a audiência e Kleiton começa a perguntar o nome dos filhos dela como forma de descontrair. Para a surpresa — e risada — do juiz, a origem dos nomes eram bem originais, como o do Greg, de 1 ano e seis meses, inspirado na série Todo Mundo Odeia o Chris.

Transparência

O juiz de fala simples e clara também aproveita os canais para comentar sobre a postura do Poder Judiciário que, segundo ele, precisa “se aproximar das pessoas, precisa se reinventar, precisa buscar ser ouvida para que compreendam suas falhas e defeitos, mas ainda assim confiem no sistema que, no fim, tem o objetivo de garantir a democracia, justiça social e igualdade”.

A fala de Kleiton se refere a uma dúvida comum sobre poder usar ou não boné durante uma audiência. Para ele, essa proibição deve ser algo a ser revisto. Ele explica que principalmente para as pessoas mais humildes, essas regras de etiqueta da Justiça podem ser desconhecidas. Além disso, o juiz se refere a esses acessórios como uma característica de individualidade da pessoa. “Essas pessoas estão tanto tempo embaixo do sol escaldante que esse boné acaba se tornando um elemento do seu corpo”, explica. “Então eu não faço questão, para mim o que é importante é a comunicação.

Em novembro, quando veio a público o caso de uma juíza de Santa Catarina que gritou com uma testemunha, o magistrado evitou se manifestar quanto ao caso, mas declarou: “felizmente hoje a gente tem uma transparência”.

Além dos recortes e conteúdos sobre a rotina na magistratura, Kleiton busca inspirar pessoas ao compartilhar a rotina de estudos antes de passar no concurso de juiz. Apaixonado por literatura, ele também divulga o trabalho como escritor e os livros publicados.

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