A Justiça de São Paulo decretou a prisão preventiva (sem prazo definido) de um major da reserva da Polícia Militar de São Paulo que é suspeito de, no final de novembro, ter oferecido R$ 100 para passar a mão nas nádegas de uma comerciante do município de Socorro, a 134 km da capital paulista.

 

"Ele disse: ?te dou R$ 100 para você deixar eu passar a mão na sua bunda gostosa, e R$ 200 para deixar apertar?. Também disse, para minha filha de 18 anos, que ela era uma delícia e deveria se casar com o filho dele, que também é capitão da PM", contou Fabiana Cristina, 43, à Folha de S.Paulo.

 



 

A importunação sexual teria ocorrido no comércio da vítima, no bairro Pompeia. O major Willians Wagner Ribeiro de Castro, 59, estava proibido de se aproximar do local, por ordem judicial, em razão de ataque semelhante que teria ocorrido em agosto de 2022.

 

"A conduta do acusado demonstra o seu descaso, não só para com a vítima e sua filha, mas, também, para com o poder público. É dizer que ele age como se acima da lei estivesse", diz trecho da decisão da juíza Fernanda Yumi Furukawa Hata, de Socorro, atendendo pedido do Ministério Público.

 

Procurado pela Folha de S.Paulo, o advogado de Castro, Mosai dos Santos, disse que não poderia se manifestar sobre o assunto porque o processo está em segredo de Justiça. Afirmou, porém, que seu cliente não está foragido, já que está na residência dele (leia mais abaixo).

 

No primeiro ataque que teria sido sofrido por Fabiana, em agosto do ano passado, conforme processo judicial, o PM, aparentemente embriagado, teria ido ao comércio dela para comprar uma garrafa de cachaça. Fabiana afirmou nunca tê-lo visto antes, embora Castro tenha uma propriedade na região.

 

Após deixar uma garrafa da bebida cair e estourar no chão, o major teria passado a assediar a comerciante. Teria oferecido R$ 2.800 para manter relações sexuais com ela e, segundo a vítima, chegou a passar a mão nas nádegas dela. Como estava sozinha no estabelecimento, Fabiana diz que temeu ser violentada.

 

"Tenho certeza de que isso só não aconteceu porque a vizinha, que estava na mesa lá fora, percebeu. Daí, dei sinal para ela não sair de lá", disse.

 

A vizinha, Francine de Oliveira, 29, também teria passado a ser atacada. O major teria dito que a moça tinha cara de "prostituta de R$ 150" e, como não estava consumindo no estabelecimento, deveria ir embora.

 

A Promotoria denunciou o major, em março de 2023, por importunação sexual, ato libidinoso, injúria e desacato. A juíza aceitou a denúncia e, na ocasião, proibiu que o réu tivesse contato com Fabiana e Francine.

 

O major também foi denunciado por desacato porque, na ocasião, Francine acionou a PM, e os dois policiais que atenderam ao chamado também foram ofendidos pelo major, conforme denúncia do Ministério Público.

 

No processo, o major anexou imagens para demonstrar que foi ferido em várias partes do corpo durante a abordagem dos policiais.

 

OMISSÃO

 

Fabiana afirma que, no último dia 25 de novembro, Castro voltou ao estabelecimento e começou a gritar e teria oferecido um Pix de R$ 500 para que ela tirasse a medida protetiva.

 

Também teria oferecido dinheiro para passar a mão nas nádegas de Fabiana, teria assediado a filha dela e teria ameaçado forjar uma prisão por tráfico de drogas.

 

Segundo a vítima, a PM foi acionada, mas os policiais teriam alegado que nada poderiam fazer.

 

O promotor Leonardo Carvalho Bortolaço pediu a prisão preventiva de Castro e, também, abertura de investigação contra os policiais que foram ao local.

 

Procurada, a Secretaria da Segurança informou que a Delegacia de Socorro também havia pedido a prisão do oficial ao tomar conhecimento do crime. E que, no último dia 29, policiais civis e militares foram até a residência do policial para cumprir o mandado, mas ele não estava no local.

 

"Diligências vêm sendo realizadas para localizar e prender o foragido. A Polícia Militar instaurou um Inquérito Policial Militar para apurar todas as circunstâncias relativas aos fatos", finaliza a nota.

 

MAJOR NEGOU EMBRIAGUEZ

 

Ouvido pela polícia no ano passado, o major disse que quebrou a garrafa porque teve uma tontura motivada por hipoglicemia e não porque tinha bebido. Para melhorar os níveis de glicose no sangue, pediu uma cerveja e sentou-se em uma mesa do bar. Neste momento, uma moça, que estava por lá começou a implicar com ele, em razão de achar que estava bêbado. A PM foi chamada.

 

Grande parte do depoimento à polícia foi para criticar a ação dos PMs, que, segundo ele, teriam orientado as moças a criarem a versão de assédio. "Segundo relatos do declarante, as acusações que vêm sofrendo de assédio ou importunação sexual, e demais delitos contra o declarante, não são verídicas, foi montado um cenário para justificar a má conduta dos milicianos", disse.

 

Sobre as novas acusações, a Folha de S.Paulo não consegui falar com Castro. A reportagem enviou mensagem para o celular dele, mas não teve resposta. O advogado disse que não poderia comentar o assunto, por conta do sigilo. Disse, ainda, que o cliente não estava foragido, mas em casa, onde a polícia poderia encontrá-lo.

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