Quando chega dezembro as cidades ganham ares natalinos: árvores de Natal são montadas, luzinhas tomam conta da paisagem e a figura do Papai Noel também dá as caras em quase todas as decorações. Além disso, também temos a tradicional ceia de natal, geralmente com a família, e a troca de presentes.

Essa imagem do Natal é muito conhecida para nós, brasileiros. Porém, uma vez que o próprio Natal é uma junção de diversas influências culturais, as tradições da data também são influenciadas pela cultura local de diferentes países.

“Isso vai se mudando, vai se moldando à tradição do lugar, às crenças aos deuses, às religiões locais e se sincretizam. Então cada lugar do mundo produz um resultado muito único, muito belo e muito diferente do que é a festa do Natal”, afirma Cláudio Paixão, professor da Escola de Ciências da Informação da UFMG, doutor em psicologia social e coordenador do Gabinete de Estudos Da Informação e do Imaginário da UFMG.

Além disso, há de se levar em consideração o processo de colonização pelos países europeus. Países colonizados por Portugal, Espanha, Itália, Holanda, Inglaterra, por exemplo, levaram consigo seus rituais natalinos, que se juntaram com os costumes locais, criando novas tradições.

“Temos que lembrar que o Natal vem de uma tradição judaica cristã, mas especialmente europeia, com a cristianização da da Europa, mas ela se espalha pelo mundo inteiro e, em cada lugar, ela vai encontrar tradições que já existem lá e essas tradições vão se fundir em alguns lugares”, explica Paixão.

Tradições para todos os gostos

Visando deixar todas as desavenças no ano que termina, algumas regiões do Peru realizam o Takanakuy, termo que significa "troca mútua de golpes". Segundo a tradição, os familiares e membros da comunidade brigam em uma arena para que possam começar o próximo ano em paz, e por isso as lutas acabam com um abraço.



Na Finlândia, é muito comum o hábito de frequentar saunas, e acredita-se que cada uma é habitada pelo seu próprio duende. Por isso, as famílias finlandesas costumam comemorar o Natal em uma sauna, em um silêncio respeitoso em homenagem aos mortos da família. Depois, se vestem e vão para casa deixando a sauna ligada para que os ancestrais já mortos possam aproveitar o calorzinho. Segundo a crença, neste ritual os espíritos dos ancestrais têm poderes de purificar o corpo dos vivos.

Também acreditando na presença dos entes queridos que se foram, em Portugal, acredita-se que os espíritos dos familiares se juntam à ceia de natal, por isso eles não tiram a mesa após a refeição, para que os mortos possam aproveitar um pouco mais da comida. Alguns, inclusive, deixam lugares vagos à mesa para que o ente querido possa ter seu lugar.

Na Nova Zelândia o famoso pinheiro é substituído pela Pohutukawa, também chamada de árvore-de-fogo devido às suas grandes flores vermelhas. Além disso, fazem um churrasco com frutos do mar. O cardápio também é diferenciado na África do Sul. Em algumas regiões, é comum comer lagartas da Mariposa Imperador do Pinheiro fritas para dar sorte e prosperidade no natal.

Pohutukawa, também chamada de árvore-de-fogo, é uma árvore típica da Nova Zelândia

Reprodução/Wikipedia

Já na República Tcheca, o costume é que a jovem que deseja casar fique de costas para a porta e jogue seu sapato sobre o ombro. Se ele parar com a frente virada para a porta, ela está próxima de concretizar seu sonho, caso a frente caia com a frente para o lado oposto da porta, significa que ela permanecerá pelo menos mais um ano solteira.

Onde o Papai Noel não tem vez

Apesar do Papai Noel ser um grande símbolo do Natal para muitos países, algumas localidades adotam outros seres mágicos como espírito natalino, e nem sempre são fofos como o bom velhinho.

Nos países nórdicos, em dezembro se comemora o Yule, festa pagã em celebração ao solstício de inverno e à aproximação da primavera. Na Islândia as figuras principais são os Jólasveinarnir, uma família de personagens folclóricos. A Grýla é uma gigante que cozinha crianças travessas em seu caldeirão, e casada com o preguiçoso Leppalúði. Eles são pais dos Yule Lads, um grupo de treze trolls que pregam peças na população. Caso as crianças se comportem durante o ano, eles deixam presentes em seus sapatos, caso tenham sido mal educadas, eles deixam uma batata.

Já na Itália, existe a figura da Befana, uma senhora idosa com ares de bruxa que voa em uma vassoura entre os dias 5 e 6 de janeiro. Assim como em algumas lendas do Papai Noel, as crianças deixam suas meias na lareira para que ela passe e deixe presentes. Mas caso a criança tenha sido travessa, ela enche a meia de carvão.

Bem menos simpáticos, na Áustria existe a lenda do Krampus, um ser que acompanha São Nicolau na noite do dia 5 para o dia 6 de janeiro. Enquanto São Nicolau presenteia as crianças bondosas, o Krampus pune as que foram más no ano que passou. Atualmente, existe a tradição na qual os adultos se vestem do demônio e sai pelas ruas assustando as crianças

O Krampus é uma figura mitológica do Yule, o Natal escandinavo

Freepik

Nem as águas agradáveis do Mar Mediterrâneo estão livres de seres em busca de crianças malcriadas. Na Grécia e boa parte do sudeste europeu existe a lenda dos Kallikantzaroi, pequenas criaturas que habitam centro da Terra e saem pelas ruas nos doze dias que antecedem o natal para pregar peças nos desavisados. Para evitá-los, é possível fazer simpatias.

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