O Brasil tem o menor percentual da população que se entende como branca da série histórica. Dados do Censo Demográfico de 2022 mostram que 43,5% dos residentes no país se declaram ‘brancos’ quando questionados sobre cor ou raça. O número é o menor em uma série de quatro pesquisas realizadas desde 1991 com a mesma metodologia. Neste mesmo recorte de tempo, o percentual de brasileiros que se declaram ‘pretos’ mais do que dobrou.
Os dados com o recorte por identificação énico-racial foram divulgados nesta sexta-feira (22/12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No plano geral, em comparação com os Censos passados, o cenário mantém-se desde 2010 com pretos e pardos sendo a maioria do país, mas há variações importantes neste contexto.
As pessoas que se consideram brancas correspondiam a 51,6% dos brasileiros em 1991; o percentual foi para 53,7% em 2000; caiu para 47,7% em 2010; e chegou a 43,5% em 2022, o menor número da série. A soma de pretos e pardos era de 47,5% em 1991; foi para 44,7% em 2000; para 50,7% em 2010; e para 55,5% em 2022.
O recorte entre 1991 e 2022 é considerado o mais adequado para comparações no quesito étnico-racial pois compreende as pesquisas feitas a partir dos mesmos critérios metodológicos. Quem destaca a importância desse aspecto para comparar o cenário nacional nas últimas três décadas é o coordenador técnico do Censo 2022 do IBGE em Minas Gerais, Humberto Sette.
“Esse recorte não é feito à toa é uma decisão metodológica. Desde 1991 apresentamos as questões e as opções de resposta e as pessoas se encaixam nelas, a gente não engessa os conceitos. A metodologia também deixa claro que cor ou raça não é um conceito biológico, mas socialmente construído”, afirma Sette.
Para o coordenador da pesquisa em Minas, um dos pontos que mais chama a atenção nos resultados do Censo em 2022 é que há um crescimento muito grande no percentual de pessoas que, questionadas sobre sua cor ou raça, respondem ser pretas. Ainda que o número ainda seja pequeno no cenário geral, houve uma grande mudança desde 1991.
As pessoas que se consideram pretas correspondiam a 5% dos brasileiros em 1991; o percentual foi para 6,2% em 2000; aumentou para 7,6% em 2010; e chegou a 10,2% em 2022, o maior número da série.
“Tem uma questão sociológica envolvida, de ordem de pertencimento étnico, é uma questão cultural. Do ponto de vista da sociedade brasileira, há uma tendência da maioria de pessoas se considerarem como parda, uma das questões pode ser a miscigenação, um fenômeno natural que ocorre e, outra questão, é do ponto de vista do pertencimento. A gente vê que o percentual de pessoas que se considera preta mais do que dobrou em 30 anos e isso é muito significativo. Sugere uma evolução da população brasileira, um aumento da sensação de estar à vontade para se definir desta forma e a tendência é que esse crescimento continue”, aponta Sette.
O pesquisador destaca que, além do número de pessoas que se definem como brancas ter caído percentualmente, a partir dos anos 2000, também se observou uma queda em números absolutos. O fenômeno sugere que pessoas que anteriormente se declararam brancas passaram a se definir como pardas ou pretas.
Recorte geográfico
O recorte geográfico teve poucas mudanças em relação à predominância de pessoas pretas, pardas, brancas, amarelas ou indígenas no país. De uma forma geral, há uma predominância maior de brancos no Sul até o estado de São Paulo. À medida em que se avança ao Norte e Nordeste do Brasil, a maior parte das pessoas se definem como pretas ou pardas.
No Sul do país, 72,6% da população se declara branca ante 21,7% de pardos e 5% de pretos; no Sudeste 49,9% são brancos; 38,7% são pardos; e 10,6% são pretos. No Centro-Oeste, 37% são brancos; 52,4% são pardos; e 9,1% são negros. No Nordeste, 26,7% são brancos; 59,6% são pardos; e 13% são pretos. No Norte, 20,7% são brancos; 67,2% são pardos; e 8,8% são pretos.
O Rio Grande do Sul é o estado com o maior percentual de residentes que se declaram brancos, com 78,4%. O maior percentual de pessoas que se identificam como pardas está no Pará, com 69,9% da população. Com 22,4% de sua população se declarando preta, a Bahia é o estado com maior percentual neste quesito.