A Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, registrou ontem a fuga de dois presos, Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento, de 35 e 33 anos respectivamente, mais conhecidos como "Martelo" e "Tatu". Os apenados, que possuem larga ficha criminal por assaltos, furtos latrocínio e outros, sendo membros de organizações criminosas, como Comando Vermelho (CV), são oriundos do Acre e foram enviados ao Nordeste por terem se envolvido em uma rebelião em julho de 2023 no presídio de segurança máxima de Rio Branco, onde foram registradas cinco mortes, sendo três por decapitações.
A cela passará por perícia e uma investigação deve ser aberta pela Polícia Federal para apurar as circunstâncias do ocorrido e o possível envolvimento de agentes. Eles foram as primeiras pessoas a conseguirem fugir do sistema penitenciário federal na história, sendo que a primeira foi inaugurada em 2006. Eles deveriam cumprir pena até 25 de setembro de 2025 no presídio de 13 mil metros quadrados que conta com mais de 200 presos.
A principal suspeita, segundo apuração da “Folha de S.Paulo”, é que a dupla tenha utilizado materiais de uma obra para realizar a ação que terminou na fuga. Nem a presença de 200 câmeras de vídeo na penitenciária, que são monitoradas em tempo real, frustraram o plano de fuga. Eles teriam aberto um buraco no teto da cela e fugido durante o banho de sol. Ainda não se sabe se agentes penitenciários ou outras pessoas auxiliaram na fuga.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, determinou o afastameto afastamento imediato da atual direção da penitenciária federal de Mossoró. Lewandowski escalou um interventor para comandar a unidade. e determinou que todos os equipamentos e protocolos dos presídios federais sejam revistos.Entre outras ordens, Lewandowski determinou que uma equipe fosse ao Rio Grande do Norte para fazer apuração presencial e determinar ações do âmbito administrativo, que policiais federais e estaduais participem de ações conjuntas em combate ao crime organizado e na prisão dos foragidos e determinou que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) monitore as rodovias.
Lewandowski está em São Paulo, de onde monitora as ações para encontrar os fugitivos. Essa é a primeira crise de seu mandato como ministro no governo Lula (PT). Em nota, a Secretaria Nacional de Políticas Penais informou que o secretário André Garcia está a caminho de Mossoró para investigar os fatos e apurar as responsabilidades do ocorrido. A Polícia Federal foi acionada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública e está tomando todas as providências necessárias para a recaptura dos foragidos e a apuração das circunstâncias da fuga.
A prioridade no momento é capturar os fugitivos. Os dois presos estavam em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), onde as regras são mais rígidas que as do regime fechado. Nesse tipo de ala há um local para o banho de sol para que os detentos não tenham contato com outros presos. Segundo a Secretaria Nacional de Políticas Penais, desde a criação, em 2006, o Sistema Penitenciário Federal “é referência de disciplina e procedimento, uma vez que não havia tido fuga, rebelião nem entrada de materiais ilícitos nas unidades penitenciárias, aplicando-se fielmente a Lei de Execuções Penais”.

Busca

A PRF atua nas rodovias federais na busca pelos dois criminosos fugitivos. As secretarias estaduais de Segurança Pública e de Administração Penitenciária do Rio Grande do Norte anunciaram, por meio de nota, que realizam patrulhamento aéreo usando um helicóptero na região de Mossoró. O governo estadual, comandado por Fátima Bezerra (PT), informou que fez contato com as secretarias de Segurança Pública da Paraíba e do Ceará para a realização de ações integradas de reforço policial nas divisas entre os estados.
A Penitenciária Federal de Mossoró conta com a presença de outros presos famosos por serem líderes de facções, como o traficante Fernandinho Beira-Mar, líder do CV, que chegou ao local em janeiro deste ano; e já teve Marcinho VP, que atualmente foi enviado para a penitenciária do Mato Grosso do Sul. Participantes do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes, como Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, também estão no Rio Grande do Norte, após pedido do Ministério Público carioca.