Josimar Benedito de Paiva foi condenado a 70 anos e seis meses de prisão, além de mais um ano de detenção e multa, em julgamento realizado pelo Tribunal do Júri de Planaltina. Ele vai responder pela prática de dois crimes de feminicídios, cometidos contra a ex-companheira e a ex-sogra, e por fraude processual.
Os crimes ocorreram em 2020 na residência das vítimas, localizada no Bairro Arapoanga, em Planaltina, Região Metropolitana de Brasília. O colegiado entendeu que os crimes de feminicídio foram qualificados pelo motivo torpe, meio cruel, recurso que dificultou a defesa da vítima e para assegurar a ocultação de outro crime.
O juiz presidente do Júri enfatizou que as circunstâncias do crime são graves e merecem maior reprovação. Uma vez que o acusado matou as vítimas, com as quais conviveu por vários anos, na própria residência delas. “Lugar em que a mulher busca sossego, paz e tranquilidade para si e seus filhos”, disse o magistrado, ao ressaltar que o crime ocorreu na residência onde tinha criança de seis anos de idade.
Por fim, o juiz observou que o réu é reincidente em crime doloso. Assim, determinou que os crimes de reclusão serão cumpridos em regime inicial fechado e o crime de detenção será cumprido no regime inicial semiaberto. O réu não poderá recorrer em liberdade.
O caso
Mãe e filha viveram uma noite de terror, antes de serem assassinadas, em Planaltina. Maria Madalena Cordeiro Neto, 60 anos, e Giane Cristina Alexandre, 36, foram encontradas mortas, dentro de casa, no Setor Arapoanga, pela Polícia Militar do Distrito Federal, com marcas de cordas nas mãos. O ex-companheiro de Giane, o analista de sistemas Josimar Benedito Paiva, está preso e responde pelo crime de duplo feminicídio.
Segundo as investigações, o homem obrigou o filho da vítima, de 6 anos, a simular um assalto para atrapalhar as diligências policiais e premeditou o crime. O casal teve um relacionamento durante três anos e, no fim de setembro, se separou. Inconformado com o rompimento, o acusado foi até a casa da ex-sogra. Escondido, ele a viu sair de casa para levar o filho ao posto de saúde e aproveitou a oportunidade para entrar no imóvel. “Os dois já não mantinham contato, porque a vítima havia o bloqueado de todos os meios de comunicação. Ele bate no portão e a sogra resiste, proibindo a entrada”, detalhou, à época, o delegado-chefe da 31ª Delegacia de Polícia, Veluziano de Castro.
Nesse momento, o homem empurrou Maria para dentro da casa e ela caiu no chão. O acusado, em seguida, pegou uma corda do varal e amarrou a vítima, colocando, ainda, uma fita adesiva sobre a boca dela. Pouco tempo depois, Giane chegou em casa, acompanhada do filho. “Ele cobre a cabeça com uma camiseta para que a ex-companheira pensasse que se tratava de um assalto. Então, ele também a amarra e a tenta convencê-la de que o retorno do casal seria a melhor opção, e sai para buscar fotos dos dois, na tentativa de fazê-la se comover”, ressaltou o delegado.
Noite de terror
Amarrada, Giane teve a cabeça coberta com uma fronha. Em depoimento, o acusado alegou que, quando retornou com as fotos, encontrou a ex-mulher sem os sinais vitais. Josimar disse que, tomado pelo desespero, colocou a venda nos olhos da criança e a obrigou a ficar no carro. A polícia apurou que o acusado ameaçou o menino, dizendo que agrediria a mãe dele caso não obedecesse aos comandos. “Ele volta e mata a sogra esganada. Depois, retorna no veículo e entrega ao menino o celular da mãe, falando que, quando o despertador tocasse, às 5h, era para pedir socorro”, disse o investigador.
A criança ficou das 18h de quarta-feira até as 5h de quinta-feira com os olhos vendados, dentro do carro, sob ameaças. Quando o alarme acionou, o menino saiu pela rua chamando por socorro, inclusive a amigos do acusado. A Polícia Militar chegou ao local por volta das 6h.
Josimar foi conduzido à delegacia para ser ouvido. “Não tínhamos dúvidas de que ele era o suspeito. Já havia vestígios suficientes. No depoimento dele, acabou confessando”, pontuou Veluziano.
Ainda durante o interrogatório, Josimar afirmou que conheceu Giane há 20 anos, quando se “apaixonou loucamente”. Após a separação, o homem chegou a adicionar várias amigas da vítima nas redes sociais para saber o paradeiro da ex-companheira e descobrir se ela estava namorando.
“Ele tinha um sentimento de posse. Em setembro, chegou a colocar fogo na casa dela. A polícia foi acionada, mas não foi registrado boletim de ocorrência. Por isso, deixamos, aqui, um apelo para que, quando houver qualquer violência contra a mulher, que seja denunciada. Assim, podemos evitar crimes bárbaros como este”, orientou o delegado.