Cada dia mais o compartilhamento de imagens contendo cenas de abuso, acidentes ou intolerâncias, tem aumentado entre a população, principalmente por meio dos aplicativos de mensagens. Recentemente, o ataque bárbaro sofrido por Michele Pinto, que teve o corpo incendiado pelo ex-marido Edmilson Félix, na estação de trem Augusto Vasconcelos, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, chocou não só os cariocas, mas a todo o Brasil. O caso aconteceu na última segunda-feira (8).
Mas, mesmo com a gravidade do ocorrido, logo começaram a circular nas redes sociais imagens da mulher em chamas e muita gente se perguntou: por que poucas pessoas se propuseram a ajudar em vez de filmar o sofrimento alheio?
Jéssica Magalhães, psicóloga e psicanalista, mestranda em psicologia social pela PUC/SP, e que atualmente pesquisa as práticas adotadas por adolescentes no uso do aplicativo TikTok, respondeu esse questionamento.
“Quando eu gravo a cena é como se eu não participasse dela, então, com isso, eu não preciso me identificar, eu não preciso me colocar no lugar daquela pessoa que está sendo oprimida, que está sendo atacada, que está sendo exposta. Porque me colocar no lugar daquela pessoa que está passando pela cena de horror faz eu sentir uma angústia tamanha, passa a doer em mim assim como eu imagino que esteja doendo para aquela pessoa”, destacou a profissional.
Nas imagens, pelo menos quatro pessoas são vistas presenciando o crime, entretanto, sem intervir na situação. Ao invés disso, elas aparecem filmando a cena de horror.
“Isso tudo toma uma proporção muito maior na época em que a gente vive, que atualmente as nossas relações são intermediadas a partir de imagem. A gente vê crescentes números de downloads de aplicativos de vídeo, de imagem, justamente porque as imagens hoje imperam como intermediação das relações”, completou a psicóloga Jéssica Magalhães.
Michele luta para sobreviver no Hospital Municipal Pedro II, no bairro de Santa Cruz. De acordo com a Polícia Civil o corpo do agressor foi encontrado na Baía de Guanabara.