Três jovens, um casal de namorados e um motorista de aplicativo, estão desaparecidos desde o último fim de semana no chamado Complexo de Israel, conjunto de favelas localizado na região Norte do Rio de Janeiro. A comunidade, dominada pelo Terceiro Comando Puro (TCP), segunda maior facção criminosa do Rio, possuí um histórico de desaparecimentos sem solução.

 

O Complexo de Israel é a junção de cinco favelas: Parada de Lucas, Vigário Geral, Cidade Alta, Pica-Pau e Cinco Bocas. Juntas, as comunidades totalizam cerca de 130 mil moradores.

 

As favelas de Vigário Geral e Parada de Lucas, localizadas em um dos lados da Avenida Brasil, tem presença do TCP há mais de uma década. Em 2020, a facção atravessou a via, uma das mais movimentadas da capital fluminense, e dominou as comunidades do outro lado.

 

Durante o processo de dominação, os criminosos instalaram diversas barricadas nas vias que dão acesso às favelas. Uma das barreiras colocadas pelos criminosos era com a escrita "paz" e um símbolo de coração.

 

Uma característica marcante da presença dos criminosos do TCP no Complexo é justamente pelos símbolos usadas pela facção. Em várias ruas e construções foram colocadas bandeiras de Israel e estrelas de Davi, uma forma de marcar a presença na comunidade.

 



 

Desaparecimentos e intolerância religiosa

As primeiras favelas que fazem parte do Complexo já tinham um histórico de desaparecimentos de moradores, mas essa situação se agravou após a facção dominar o outro lado da Avenida Brasil. No entanto, há muita subnotificação, já que muitos casos não são notificados às autoridades por medo de represálias.

 

Em janeiro, um adolescente desapareceu após ser abordado por quatro homens em duas motos enquanto soltava pipa perto da estação de trem Brás de Pina. Dias depois, moradores da comunidade fizeram um protesto exigindo justiça por ele e por outros desaparecidos.

 

Quem comanda o Complexo de Israel é o traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, um dos principais líderes do Terceiro Comando Puro. O criminoso já foi indiciado por crimes como tráfico de drogas e homicídio, mas nunca foi preso.

 

Peixão também já foi investigado por ataques contra terreiros de religiões de matrizes africanas em Duque de Caxias, cidade onde nasceu. A intolerância religiosa é presente no Complexo de Israel. Na favela Cinco Bocas, a imagem de uma santa instalada em uma quadra foi removida assim que a facção dominou o local.

 

As vítimas mais recentes

  • Leonardo Correia dos Santos

Mototaxista e morador do bairro de Guadalupe, na Zona Norte da capital fluminense, Leonardo, de 24 anos, está desaparecido desde a noite do último sábado (13).

 

Segundo familiares, ele realizou uma corrida pelo aplicativo 99 entre os bairros de Cordovil e Brás de Pina por volta das 20h. Desde que encerrou a viagem, o mototaxista não foi mais visto.

 

Após tentar ligar por diversas vezes para o celular dele e não ter resposta, a família decidiu, então, rastrear o aparelho. O GPS apontou que o telefone estava na Rua Itupui, cerca de 2 km distante de onde a corrida foi encerrada, na Rua Ourique.


  • Darielson Azevedo Nunes e Lohanna Miranda

Moradores do Bairro Jardim Gramacho, na cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, o casal de namorados Darielson e Lohanna também desapareceram na noite do último sábado. Os dois estariam se dirigindo para um baile funk quando teriam sido interceptados por criminosos do TCP.

 

Em um áudio divulgado nas redes sociais, o pai de Lohanna disse que foi avisado de que a sua filha foi morta no Complexo. “Não adianta mais procurar mais também não. Minha filha está morta lá na Cidade Alta. Picotaram a minha filha, não tem como. Os moleques já avisaram que não adianta procurar, porque não tem corpo mais”.

 

Os casos estão sendo investigados pela Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA).

O casal de namorados Darielson Azevedo Nunes e Lohanna Miranda desapareceu no sábado (13) no Complexo de Israel

Reprodução/Redes Sociais


 

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