Vista aérea da área portuária inundada de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, tirada em 8 de maio de 2024
 -  (crédito: Nelson Almeida / AFP)

Vista aérea da área portuária inundada de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, tirada em 8 de maio de 2024

crédito: Nelson Almeida / AFP

FOLHAPRESS - Em novo levantamento realizado nos assentamentos da reforma agrária no Rio Grande do Sul após as chuvas, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) contabilizou 290 famílias desabrigadas e 95 bovinos mortos pelas chuvas, além de perdas produtivas e financeiras consideradas sem precedentes.

 

O MST tem seis assentamentos nos municípios de Viamão, Nova Santa Rita, Tapes e Eldorado do Sul.

 

Das 200 famílias de assentados envolvidas na produção de hortaliças e frutas na região metropolitana, 170 perderam toda a produção em uma área de 250 hectares. O MST calcula prejuízo de R$ 35 milhões, considerando os 12 produtos principais.

 

 

Na pecuária leiteira, as perdas devem ser de quase R$ 3 milhões, considerando danos a galpões, pastagens, maquinários, além de leite não entregue e morte de animais.

 

Nas lavouras de arroz, as chuvas danificaram as plantações em 2.358 hectares, dedicados tanto à produção agroecológica como à convencional, além de uma área de transição. Na área de 2.800 hectares de arroz agroecológico plantado em 2024, 755 hectares de produção se perderam.

 

Ao todo, o prejuízo na rizicultura atinge R$ 10 milhões, sem contar adiantamentos de insumos feitos a produtores de arroz (R$ 7,8 milhões) e empréstimos bancários (R$ 6,7 milhões) com os quais os sem-terra terão que lidar no período de reconstrução. A Cootap (cooperativa dos trabalhadores assentados do RS) tem contratos financeiros de R$ 11,6 milhões com previsão de vencimento ainda em 2024.

 

 

Dionéia Soares Ribeiro, agricultora de arroz orgânico, coordenadora de insumos do MST no Rio Grande do Sul e diretora da Cootap, salienta que o estado sofre com a terceira enchente seguida e que o efeito acumulado sobre a produção é de devastação praticamente total.

 

"Foi perdido quase tudo. Como sofremos com as enchentes passadas, já plantamos fora de época e já teríamos uma colheita menor, porque aí o clima não ajuda. O mês de plantar arroz é outubro, novembro, e nós plantamos quase tudo em dezembro e janeiro", afirma.

 

Ela diz que os assentados ainda não sabem como está o arroz já colhido e que está armazenado em silos. Devido à falta de energia elétrica, os motores desses espaços desligaram e os grãos ficaram sem ventilação. Caso tenham estragado, o prejuízo será ainda maior.

 

 

Das 290 famílias desabrigadas, 38 retornaram para seus lotes. Dionéia afirma que o MST conseguiu comprar um barco com recursos de doações que têm sido feitas e, com isso, os assentados têm navegado até os locais onde estão suas casas e verificado os danos causados --muitas vezes irreversíveis, especialmente nas casas de madeira.

 

Parte dessas famílias têm sido acolhidas por clientes da produção agroecológica, diz a coordenadora, e o MST não registrou mortes de assentados.

 

Para além do atendimento de primeira hora aos atingidos com alimentação e abrigo, Dionéia propõe um debate com o governo federal sobre o posterior reassentamento dos atingidos em áreas que não sejam de risco.

 

"Em Eldorado do Sul, eles ficam na beira do rio Jacuí. Praticamente todas as nossas áreas de arroz orgânico são em beira de rios que vêm do norte do estado. A produção de arroz agroecológico está em risco, já que os especialistas dizem que as chuvas serão cada vez mais severas", conclui.