A ação de quadrilhas que miram medicamentos de alto custo, como o Ozempic, fármaco procurado por quem busca emagrecer, tem feito grandes redes de drogarias repensarem a logística e reduzirem o estoque desses remédios em suas unidades em São Paulo.
A informação foi confirmada por funcionários e por policiais. Investigadores também confirmaram uma alta de roubos do tipo em relação a outros anos.
"Nós conversamos com dezenas de funcionários de farmácias que foram vítimas de roubo. Todos eles relataram o medo de trabalhar com esse tipo de remédio. As farmácias tiveram que reduzir o número [de medicamentos], você vê que elas começaram a não encher o estoque", afirma o delegado Pedro Ivo Correa dos Santos, da 5ª Delegacia de Roubos e Furtos a Bancos do Deic.
Durante as investigações, os policiais chegaram a farmácias que foram assaltadas mais de cinco vezes, algumas delas pelo mesmo ladrão. Em um dos casos, o homem foi reconhecido por uma tatuagem e acabou preso.
Na noite o último dia 10, dois suspeitos de roubar medicamentos de uma farmácia na rua Augusta foram presos por policiais civis do 78° DP (Jardins). Com a dupla foram encontradas caixas de Ozempic, além de uma quantia em moedas levadas do estabelecimento. Os suspeitos teriam roubado a farmácia mais de uma vez.
A reportagem percorreu diversas drogarias no centro e na zona sul de São Paulo entre terça (14) e quarta-feira (15) da semana passada. Atendentes e farmacêuticos relataram uma sequência de assaltos a lojas, principalmente no período noturno. O objeto de desejo da vez é um trio de remédios ?além do Ozempic, o Saxenda, outro emagrecedor, e o Venvanse, usado por pacientes com déficit de atenção.
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Há relatos de roubos à mão armada, mas também de criminosos que, desarmados, usam de intimidação para exigir a entrega do medicamento.
Um funcionário de uma drogaria relatou como agem os criminosos. Eles telefonam para a farmácia e perguntam se há Ozempic disponível para venda. Caso a resposta seja positiva, vão até o estabelecimento para roubar.
Recentemente, policiais civis do Deic desarticularam um dos grupos que atacam farmácias pela capital. A investigação, segundo o delegado Santos, resultou na prisão de dez pessoas. Foram identificados os ladrões da base ?aqueles que assaltam?, o receptador, um intermediário e donos de pequenas farmácias, destino de alguns dos medicamentos.
"Entre o cara que recepta, tem, vamos dizer, um atravessador. Essas farmácias [que trabalham com mercadoria roubada] são de empresários picaretas. Mas são empresários, e esses caras não querem ter contato com aquele que anda armado. Então entre os dois tem um atravessador. Nós já achamos esse atravessador também", diz o delegado.
O esquema da quadrilha ocorria em torno da cidade de Guarulhos, na Grande São Paulo, onde vivia um dos receptadores identificados. Durante uma busca, por exemplo, os investigadores localizaram em Guarulhos um produto que havia sido roubado na noite anterior de uma farmácia nas proximidades do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, no Morumbi.
Policiais também já encontraram na capital paulista medicamentos roubados em Jaboatão dos Guararapes (PE), por exemplo.
Além do repasse para comércios de menor porte, localizados muitas vezes em bairros de periferia, a quadrilha descoberta vendia produtos roubados por meio das redes sociais.
Enquanto uma caixa de Ozempic pode custar de R$ 929 a R$ 1.063 nas grandes redes de farmácias, no mercado clandestino o medicamento é vendido por valores que vão de R$ 700 e R$ 1.000, a depender do bairro em que é comercializado.
Para a polícia, um problema está na falta de cuidado com o armazenamento desses produto. Caixas de Ozempic foram encontradas dentro de geladeiras, forma ideal de armazenamento, mas também fora dela.
À reportagem o Sinfar-SP (Sindicato dos Farmacêuticos no Estado de São Paulo) declarou estar ciente dos casos de roubo e furto do medicamento Ozempic, assim como de similares com a substância semaglutida.
"Orientamos que os farmacêuticos vítimas de violência registrem, junto aos órgãos de segurança, boletins de ocorrência relatando os casos de roubo ou furto e realizem, também, informe junto ao Conselho Regional de Farmácia e ao Sindicato dos Farmacêuticos no Estado de São Paulo", disse.
O órgão ainda acrescentou que "desconhece medidas protetivas que garantam a integridade física dos farmacêuticos por iniciativa dos donos de farmácias e drogarias".
Procurado, o Grupo DPSP, responsável pela Drogaria São Paulo, disse atuar de forma a garantir a segurança de seus funcionários e clientes e que sempre colabora integralmente com as autoridades para solucionar eventuais ocorrências registradas em suas lojas.
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Já a RD Saúde, das drogarias Raia e Drogasil, não quis comentar o assunto.
A Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias) declarou não dispor de números e elementos sobre o tema.