Depois dos temporais de quinta-feira (23/5) e a chuva constante ao longo do dia dessa sexta (24/5), o morador de Porto Alegre passa a conviver com uma nova preocupação: o risco de deslizamentos de encostas. A Defesa Civil municipal emitiu alertas relacionados a 26 pontos críticos da capital gaúcha. Não há, porém, indicação do poder público para que os moradores das áreas de risco abandonem as casas e sigam para abrigos. A orientação é para que observem e, em caso de "perceberem instabilidade", deixar o imóvel ameaçado.
"A população que reside em áreas de risco deve observar quaisquer alterações nas encostas. Em caso de sinais de instabilidade, os moradores devem procurar abrigo temporário junto a parentes ou amigos, ou utilizar as estruturas de acolhimento disponibilizadas pela prefeitura. Recomenda-se que a população busque locais seguros, mantenha distância de postes, árvores e placas de sinalização e evite entrar em áreas alagadas", indica o alerta emitido pela Defesa Civil do município. As áreas mais ameaçadas estão em 24 bairros das zonas norte, leste e sul, como Sarandi, Lomba do Pinheiro e Mario Quintana.
A advertência sobre as encostas tem por base informações fornecidas pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), e é válido até segunda-feira.
Subida
Com as fortes chuvas das últimas horas, o nível do Lago Guaíba voltou a ultrapassar a marca dos 4m, nessa sexta-feira à tarde — bateu em 4,26m. O represamento das águas na Lagoa dos Patos, em decorrência de ventos vindos do sul do país, e a chegada a Porto Alegre da grande precipitação pluviométrica que se formou no norte do Rio Grande do Sul fazem com que a expectativa seja de que as águas no Guaíba permaneçam subindo.
A previsão da retomada da inundação indica uma cheia duradoura do Guaíba, diminuindo o ritmo — em momentos paralisando totalmente — do processo de limpeza e reconstrução das cidades da região metropolitana de Porto Alegre. E essa preocupação se potencializa porque a prefeitura da capital, no dia 17 de maio, para escoar as águas que invadiram a cidade, derrubou a comporta de número 3, no bairro Centro Histórico. O equipamento servia de contenção para que a água do Guaíba não transbordasse.
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Agora, com a volta da necessidade de fechar os portões do sistema da proteção, a prefeitura não consegue recolocar o portão derrubado. A alternativa encontrada pela administração municipal foi usar sacos de areia, misturados com cimento, para tentar conter a cheia. Foram usados mais de 50 sacos — aproximadamente uma tonelada ao todo —, dispostos em três fileiras, no local onde ficava a comporta arrancada.
A enchente segue elevada em parte dos bairros afetados desde o início do mês, especialmente na zona norte da capital, no extremo sul e nas ilhas — como no Sarandi, no Humaitá, no Lami e no Arquipélago. Uma das principais vias de Porto Alegre, a Avenida Ipiranga, teve nessa sexta faixas interditadas diante da abertura de um buraco na tubulação abaixo de uma das pistas.
Lixo espalhado
Uma das razões para que a enchente custe a baixar é a orientação, dada dias atrás pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana, para que as pessoas removessem para as ruas da cidade o lixo acumulado dentro das casas e comércios. Os bairros que continuavam alagados tinham uma grande quantidade de entulho escondido sob as águas turvas. A reportagem do Correio constatou isso ao percorrer áreas alagadas do Centro de Porto Alegre. Segundo os técnicos do DMLU, somente depois que a água baixar nesses locais é que as equipes de limpeza poderão remover o lixo acumulado.
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"A primeira etapa da limpeza das vias é a retirada de entulhos, como móveis e eletrodomésticos descartados pela população. A etapa seguinte é a raspagem da lama que, seca, endurece sobre as vias que não estão mais alagadas. Como ainda estão previstas chuvas, o trabalho tem de ser paralisado. É muito difícil dar um prognóstico sobre quando a limpeza terminará", explica o diretor-geral do DMLU, Carlos Alberto Hundertmarker. Apesar de o acúmulo de lixo prejudicar o escoamento da enchente, o DMLU reforçou a orientação para a população seguir fazendo o descarte nas ruas.
A inundação traz, também, problemas com a rede pública de energia. Nessa sexta-feira, por causa de um curto-circuito provocado pelo excesso de água no local, uma subestação de metrô capital gaúcha ficou muito danificada por causa de um incêndio.