As duas enfrentaram as enchentes de setembro e novembro de 2023 e a de maio deste ano e o registro marca o reencontro delas após a última tragédia -  (crédito: Reprodução / Daniele Capelari - @daniicapelari)

As duas enfrentaram as enchentes de setembro e novembro de 2023, e a de maio deste ano e o registro marca o reencontro delas após a última tragédia

crédito: Reprodução / Daniele Capelari - @daniicapelari

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma imagem registrada pela fotógrafa Daniele Capelari em Roca Sales, no Rio Grande do Sul, viralizou nas redes sociais ao mostrar o reencontro de duas vizinhas que perderam as casas na enchente que devastou o município no Vale do Taquari.

 

A história das duas mulheres simboliza a tragédia vivida pela população da cidade em que bairros inteiros viraram destroços, com restos de casas, eletrodomésticos e troncos de árvores espalhados pelas ruas.

 

 

 

Anilda Castoldi, de 81 anos, e Norma, de 89, moraram próximas durante 40 anos. As duas enfrentaram as enchentes de setembro e novembro de 2023 e a de maio deste ano.

 

Passaram por situações parecidas. Anilda perdeu móveis e viu a casa ser coberta por lama em setembro; reconstruiu a moradia, em novembro, perdeu novamente os pertences e em maio o imóvel desabou. Norma teve a casa arrastada em setembro, construiu uma nova residência, que resistiu à inundação de novembro, mas foi arrastada em maio. Agora não sobrou nada para nenhuma das duas.

 

 

As duas se reencontraram há uma semana, em meio aos escombros. Anilda viu Norma sentada, atônita diante da destruição, e correu para abraçar a amiga.

 

"Quarenta anos morando juntas e agora estamos espalhadas pelos cantos", disse Anilda. "Vamos nos perder", respondeu Norma.

 

Apenas um imóvel ficou em pé no bairro em que as duas moravam. Anilda hoje vive no porão da casa da irmã, em Roca Sales. E Norma mora com um filho em uma casa alugada. Cinco dos nove filhos dela também perderam tudo nas inundações.

 

 

Daniele registrou o encontro das amigas porque acompanha a trajetória de resistência de Anilda desde setembro do ano passado, como integrante de um grupo de voluntários que atua em Roca Sales.

 

 

Ela conta que a idosa, que trabalha como manicure, resistia a deixar a casa onde viveu grande parte de sua vida.

 

"Ela estava enraizada naquele espaço", diz a fotógrafa. Era ali que atendia as clientes e guardava lembranças acumuladas ao lado do marido, já morto, e do filho, que vive em Porto Alegre.

 

Na segunda enchente, compreendeu que não era possível mais ficar ali. Por meio de uma vaquinha, os voluntários conseguiram comprar um terreno em uma área segura e também recursos para a construção. A casa ainda será erguida.

 

Em maio, Daniele chegou a ficar quatro dias sem notícias da manicure, depois da terceira enchente. Ao reencontrá-la, pela primeira vez viu Anilda chorar diante da devastação.

 

"Ela é uma pessoa muito alegre. Não transparecia toda a dor que carrega", descreve. A destruição total, no entanto, abalou a manicure.

 

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Anselmo Cunha / AFP

 

"A casa antiga dela não existe mais. Parece um cenário de guerra", diz a fotógrafa. "Mas ela já está bem amparada. Ganhou também os novos móveis"

 

As doações que os voluntários recebem agora são encaminhadas para outras famílias e a fotógrafa tenta ajudar a vizinha Norma.

 

Daniele, que tem 29 anos, é de Passo Fundo e desde setembro frequenta Roca Sales para ajudar os moradores afetados pelas enchentes.

 

"Sempre carreguei isso comigo. Meu avô sempre falava que enquanto estivéssemos em posição de ajudar e não de sermos ajudados, deveríamos fazer pelos outros", afirma sobre o voluntariado.

 

Roca Sales teve 43% de suas casas atingidas pela enchente e vive uma situação de destruição sem precedentes. A cidade de 10 mil habitantes foi adotada por Jaraguá do Sul (SC) para ajudar na recuperação por meio de um comboio com equipe, caminhões e escavadeiras.