Aline Ferreira pagou R$ 3 mil para receber a aplicação do produto, que só pode ser feito por médicos -  (crédito:  Instagram/Reprodução)

Aline Ferreira pagou R$ 3 mil para receber a aplicação do produto, que só pode ser feito por médicos

crédito: Instagram/Reprodução

A um dia para completar uma semana da morte da influenciadora digital Aline Ferreira, 33 anos, a Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO) fecha o cerco e reúne inúmeras irregularidades contra Grazielly da Silva Barbosa, a responsável por aplicar a substância chamada PMMA (polimetilmetacrilato) nos glúteos da influencer de Brasília, que pode ter provocado a morte dela. As acusações são de exercício ilegal da profissão, falsificação do carimbo de uma médica de Goiás e clínica sem alvará de funcionamento.

 

São muitas as ilegalidades cometidas pela falsa biomédica investigadas pela polícia goiana. Sem formação superior na área da saúde, Grazielly abriu uma clínica no centro de Goiânia, no final de novembro de 2023, e atendia principalmente mulheres.

 

Sem a autorização para realizar os procedimentos estéticos nas pacientes, Grazielly oferecia várias possibilidades de intervenção estética: botox, fios de sustentação e bioestimulador, o mesmo utilizado em Aline.

 

 

Aline pagou R$ 3 mil para fazer três sessões de preenchimento de glúteos, mas ela não sabia qual substância seria aplicada. Uma testemunha, amiga da influencer, contou à polícia que, em nenhum momento, Grazielly alertou sobre o produto, nem a formação que tinha e muito menos os riscos que a intervenção poderia trazer. Na primeira sessão, em 23 de junho, colocou 30ml na região das nádegas. 

 

Segundo a família, Aline voltou para Brasília e começou a passar mal. Teve febre e tomou algumas medicações indicadas por Grazielly. Os remédios constam em uma receita falsa, carimbada com o nome de uma médica que atua em uma clínica de atendimento pediátrico, psiquiátrico e nutricional na cidade de Campos Belos (GO). A polícia investiga a procedência dessa assinatura e onde ela teria conseguido o carimbo da profissional de saúde. 

 

Nas redes sociais, Grazielly se apresentava como biomédica, mas não tinha o diploma. À polícia, disse que cursou três períodos de medicina em uma faculdade do Paraguai, mas não concluiu. Ao ser questionada sobre a autorização para realizar tais procedimentos estéticos, alegou ter feito "cursos livres", mas não apresentou diplomas ou certificados das especializações.

 

Doses erradas

A receita médica falsificada por Grazielly e entregue à Aline consta, além de erros ortográficos, falhas e imprecisões nas doses indicadas. Isso pode gerar graves consequências no paciente, segundo a análise da dermatologista Rosa Matos, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, ouvida pelo Correio. 

 

 

O documento emitido por Grazielly lista cinco medicamentos sugeridos por ela para o pós-procedimento. O primeiro é a prednisolona, um corticoide que, geralmente, não é usado após essa técnica, segundo a médica Rosa Matos. A mulher orientou que Aline ingerisse 40mg a cada 12 horas por cinco dias, o que, de acordo com a dermatologista, não corresponde à posologia habitual.

 

O segundo remédio é o xarelto, um anticoagulante e antitrombótico. "Esse é totalmente inadequado após preenchimento. Inclusive, essa dose está fora dos padrões, pois aumenta o risco de hematomas e equimoses. Contraindicado após procedimentos injetáveis habitualmente", alertou a médica.

 

A amoxicilina, mesmo sendo um antibiótico, não seria capaz de prevenir a contaminação bacteriana, informou Rosa. Outro medicamento não comumente utilizado nesses casos é o nebacetin pomada e, por fim, o toragesic, o único cuja indicação seria a adequada para o caso.

 

Segundo a polícia, Grazielly não fazia nenhum tipo de avaliação prévia do paciente, nem indicava exames para fazer antes dos procedimentos. Na clínica dela, o interessado simplesmente chegava e era atendido, sem qualquer restrição.

 

"Em todos os procedimentos médicos, os pacientes assinam um termo de consentimento do risco, onde ficam claros os possíveis riscos que estão correndo ao se submeterem a esse tipo de técnica", esclareceu a dermatologista.

 

Rosa Matos dá algumas dicas para quem busca por esse tipo de procedimento injetável. A primeira  é verificar o registro do profissional no conselho de classe e quantos anos de prática a pessoa tem. Outra é ver se a clínica tem autorização da vigilância sanitária para funcionar.

 

O paciente também deve se informar sobre a escolha do produto que será injetado: a procedência, se é biocompatível, se é absorvível e estéril, o lote e se está dentro do prazo de validade.