CASCAVEL, PR (FOLHAPRESS) - Na manhã da última sexta-feira (9), Leonardo Risso da Silva, 30, deixou a mulher, a médica Arianne Risso, 34, no aeroporto de Cascavel, no Paraná. Ela embarcou com uma colega para um congresso em Curitiba e faria escala em Guarulhos. Cerca de 20 minutos antes do pouso, o avião em que estava com outras 61 pessoas caiu no quintal de uma casa em Vinhedo, no interior de São Paulo.
Como estava no trabalho, ele não soube do acidente de imediato, mas estranhou quando uma amiga da mulher ligou para perguntar o número do voo, assim que as primeiras notícias foram divulgadas. "Fui para o aeroporto e fique até a noite, quando a lista de passageiros foi confirmada", lembra na sala de embarque do mesmo lugar a caminho de São Paulo para acompanhar o reconhecimento das vítimas, neste sábado (11).
Casados há oito anos, eles venderam tudo para se mudarem de Fernandópolis, no interior paulista, para Blumenau, Santa Catarina, onde Arianne começou sua especialização em oncologia. Depois, foram morar no oeste paranaense para ela terminar a residência no Hospital do Câncer de Cascavel. "Abrimos mão de tudo para viver um sonho e agora vivemos um pesadelo", diz o marido sobre o momento em que Arianne decidiu deixar o emprego na rede municipal de saúde.
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Ele conta que a médica tomou a decisão de se especializar em oncologia logo depois de se formar e atender uma paciente com câncer no posto médico de Fernandópolis, onde trabalhava. "Aquilo mexeu demais com ela. Era vocacionada a cuidar das pessoas."
Até o início da especialização, passaram-se alguns anos até o dia em que Risso perguntou para a mulher o motivo de ter desistido de seu sonho. "Ela parou para pensar e concordou. Colocamos nossa mudança dentro de um carro e partimos", lembra.
Arianne estava no penúltimo ano dos cinco anos de especialização. O congresso que a receberia, organizado pela farmacêutica AstraZeneca, cancelou a programação assim que seu nome foi confirmado entre as vítimas do acidente aéreo. "Ela estava muito animada para ir ao congresso, era a concretização de um sonho", diz Risso. "Era a pessoa mais humana que existiu. Por onde passava, os pacientes a adoravam."
Em nota, o hospital onde Arianne trabalhava enalteceu sua trajetória e a de Mariana Comiran Belim, sua colega que também estava no avião. "Médicas humanas, que atendiam todos os pacientes com muita dedicação, carinho e respeito. Não é à toa que eram recorrentes os elogios às duas em nossas ouvidorias. Era muito nítido o amor que ambas tinham pela profissão", diz trecho.
Assim como ele, familiares de vítimas embarcaram nas últimas horas de Cascavel para a capital paulista para levar documentação necessária ao processo de reconhecimento dos corpos. A maioria das vítimas vivia na cidade e em municípios da região. A Defesa Civil do Paraná distribuiu uma lista, que inclui documento de identificação pessoal da vítima, documentos odontológicos e médicos, fotos e vídeos recentes.
Uma força-tarefa da Polícia Científica foi montada em um hotel em Cascavel para receber a coleta de material de DNA de parentes de primeiro grau das vítimas. Ao menos 26 famílias foram atendidas e 15 se submeteram à coleta de amostra de material genético.
O material foi enviado para São Paulo onde ocorre o processo de identificação dos corpos no IML (Instituto Médico-Legal).