SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um avião modelo ATR-72 - o mesmo utilizado no voo 2283 da Voepass - esteve envolvido num incidente grave em 2013, na Bahia, por acúmulo de gelo em suas asas. Segundo perícia, houve pane nos controles e a aeronave perdeu sustentação. Um pouso de emergência foi realizado, e ninguém saiu ferido.

 

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A formação de gelo nas asas é justamente uma das teorias para o acidente que vitimou 62 pessoas na última sexta-feira (9), em Vinhedo, São Paulo. O relatório preliminar sobre a causa deve sair em setembro.

 

Passada a ocorrência de 2013, com um voo da Trip Linhas Aéreas, o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) exigiu maior investimento de companhias em treinamento para pilotos sobre situações do tipo.

 

Houve, porém, uma exceção: a então Passaredo - a atual Voepass - que já teria um programa bem estruturado. A ATR-72 da Trip, hoje Azul, já foi retirada de operação por, segundo a companhia, ser antigo demais.

 



 

Era 26 de julho de 2013 quando a aeronave decolou de Aracaju (SE) rumo a Salvador (BA) com 62 pessoas. Por volta de 21h, enquanto se aproximava do destino a 4.876 metros de altitude, ocorreu uma pane. Eles estavam numa área com acúmulo de gelo, que envolveu as asas.

 

O piloto logo declarou emergência e conseguiu reestabelecer o controle após a altitude cair para 3.352 metros. Pouso foi realizado minutos depois.

 

 

Ao fim de sua investigação, o Cenipa elencou os fatores que influenciaram na ocorrência: condições meteorológicas adversas - ou seja, a formação de gelo - e uma sequência de erros por parte da tripulação. Foram deles a avaliação imprecisa da situação, comunicação ruim e demora para acionar o equipamento de degelo.

 

Em razão dessas falhas humanas, uma recomendação foi enviada à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Ela deveria atuar junto às companhias para garantir treinamento reforçado às tripulações sobre situações de congelamento das asas.

 

"O mau preparo pode contribuir bastante para um acidente", diz o comandante Carlos Camacho, especialista em segurança de voo. Ele, porém, cita outro fator como preponderante em situações com gelo envolvendo o ATR-72, a própria engenharia do modelo. "Houve um projeto deficiente, na minha opinião." Ele explica que os aviões podem ter dois sistemas para situações meteorológicas adversas: um que arrebenta o gelo, e outro que não permite a formação de gelo por meio de aquecimento. Este é mais eficiente e mais caro. Modelos ATR usam o primeiro, menos confiável.

 

 

O voo 2283 da Voepass

 

O voo 2283 da Voepass caiu na sexta (9), durante viagem de Cascavel (PR) a Guarulhos (Grande São Paulo), na área de uma casa no condomínio Recanto Florido, no bairro Capela. Imagens feitas por moradores mostram o avião em queda livre e, na sequência, uma explosão seguida por muita fumaça.

 

A queda matou os 58 passageiros e os quatro tripulantes que estavam a bordo.

 

 

O avião, que decolou às 11h50 e tinha previsão de chegada às 13h40, perdeu 3.300 metros de altitude em menos de um minuto a partir das 13h21, segundo o site Flight Aware, que monitora voos em tempo real ao redor do mundo.

 

Segundo a Força Aérea Brasileira, o avião deixou de responder às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo às 13h21. O piloto não teria declarado emergência ou reportado estar sob condições meteorológicas adversas.

 

Nas primeiras horas após o acidente, especialistas em aviação ouvidos pela reportagem levantaram duas hipóteses principais para o caso com base nos primeiros detalhes, ressaltando ser cedo para determinar as causas. A caixa-preta do avião foi recuperada.

 

 

Até a tarde desta terça-feira (13), 45 corpos de vítimas da queda do voo 2283 da Voepass foram identificados. Desses, 27 já foram liberados aos familiares, os primeiros a serem comunicados sobre o andamento do trabalho de reconhecimento.

 

Outros cinco corpos estão em processo de documentação para a liberação às famílias, de acordo com boletim emitido pelo governo de São Paulo.

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