Dentre os desejos do que fazer antes de morrer, Olivetto disse que precisava "ver a publicidade brasileira voltar a ser respeitada como negócio e internacional por ser local" -  (crédito: Foto: Reprodução/Reclame (Multishow))

Dentre os desejos do que fazer antes de morrer, Olivetto disse que precisava "ver a publicidade brasileira voltar a ser respeitada como negócio e internacional por ser local"

crédito: Foto: Reprodução/Reclame (Multishow)

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Sob o hino do Corinthians, mais de 200 pessoas se despediram na tarde desta segunda-feira (14/10) do publicitário Washington Olivetto, que morreu no domingo (13/10), após complicações pulmonares e falência múltipla de órgãos.

 

 

A cerimônia aconteceu no Cemitério e Crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, onde o corpo foi cremado.

 

Em uma sala com caixão fechado, coberto pela bandeira do Corinthians, família, amigos e famosos dividiam espaço com cerca de 90 coroas de flores.

 

 

Corintianos ilustres, como Juca Kfouri, Walter Casagrande e Serginho Groisman, estiveram presentes, assim como nomes da música, como Lulu Santos e Zélia Duncan, e expoentes do mercado publicitário, a exemplo de Luiz Lara, da Lew'Lara/TBWA, e Dalton Pastore, presidente da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

 

 

"Somos contemporâneos: nascemos no mesmo ano [1951], no mesmo bairro da Zona Leste de São Paulo, o Tatuapé, torcemos para o mesmo time, mas só nos conhecemos na vida adulta", diz Pastore, lembrando que Olivetto abriu caminho para que muitos publicitários brasileiros criassem a própria agência.

 

"Antes a ideia era seguir carreira em uma multinacional. Mas depois que ele saiu da DPZ e criou a W/Brasil, muita gente fez o mesmo", diz. O próprio Pastore deu origem à Carillo Pastore, Fábio Fernandes montou a F/Nazca, Celso Loducca abriu a Loducca, enquanto Luiz Lara e Jacques Lewkowicz (morto em julho deste ano) inauguraram a Lew'Lara.

 

Pastore conta que os dois sempre competiram muito por clientes e que Olivetto ganhou a maior parte das vezes. Em uma delas, porém, Pastore levou a conta, quando criou o bordão "Faz um 21" com a atriz Ana Paula Arósio para a antiga Embratel (que foi incorporada pela Claro).

 

"Washington sempre foi um competidor leal, que vencia pelo talento", diz. "Ele chegou a gravar um vídeo recomendando a minha agência quando decidi criar a Carillo Pastore."

 

 

Já Luiz Lara conheceu Olivetto como cliente: era diretor de marketing da antiga Paulistur (Empresa Paulista de Turismo), que foi atendida pela DPZ. Mais tarde, se tornaram sócios, no período em que a Lew'Lara incorporou a holding W/Brasil, antes de se associar à TBWA.

 

"Ele era culto, sofisticado e absolutamente popular, do tipo que ia do Corinthians a Alexander Calder em questão de segundos, sem nenhuma arrogância", diz Lara, referindo-se ao pintor e escultor americano, que viveu entre 1898 e 1976, famoso por suas esculturas cinéticas.

 

Na opinião de Lara, a publicidade brasileira só se tornou a terceira mais premiada do mundo no Festival de Cannes - depois da americana e da inglesa - por causa de Olivetto, que abriu espaço para a brasilidade nas campanhas. "Ele odiava anglicismos e condenava a ideia de que um criativo deveria se concentrar em uma campanha em uma sala com ar-condicionado. Para ele, imersão tinha que ser na vida real, ele se alimentava do povo."

 

Lara destaca ainda a ligação de ambos com a música. "Washington era uma das pessoas que mais entendia de música, amigo do André Midani [produtor musical, morto em 2019], e resgatava as canções também para suas campanhas publicitárias."

 

 

Para o músico e compositor Lulu Santos, Olivetto fez "a mágica" de transportar o que seria apenas propaganda para o imaginário da cultura popular. "Alguém sempre vai dizer que a primeira vez a gente não esquece", diz Lulu, referindo-se à campanha do primeiro sutiã, criada para a Valisère, em 1987.

 

"Quando ele saiu do sequestro [em 2001], na sua primeira entrevista coletiva, disse que as duas coisas que ele queria mais fazer era comer a coxinha do Frangó [boteco da Freguesia do Ó, na zona norte de São Paulo] e ir no show do Lulu Santos", diz o músico, relevando que os dois eram amigos há 45 anos.

 

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A cantora e compositora Zélia Duncan lamentou que o amigo tivesse ido "embora tão cedo". "Acho que a gente mede a vida pelo quanto de vida ela tocou", diz, revelando que na cerimônia havia muita gente e muitas flores. "Ele teve uma vida muito bonita e intensa."