Desafio do desodorante: Polícia Civil investiga morte de Sarah Raíssa
A Polícia Civil investiga a morte de Sarah Raíssa, 8 anos, que teve uma parada cardiorrespiratória ao inalar aerosol para cumprir o "desafio do desodorante", que circula no TikTok. Especialistas cobram regulação mais rigorosa das plataformas
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Siga no"O pai dela está completamente devastado. Foi ele quem encontrou a menina morta". O desabafo é de Maria Irina* parente de Sarah Raíssa Pereira, 8 anos, que morreu depois de participar do "desafio do desodorante", que circula no TikTok. A prática consiste em incentivar, por meio de vídeo, os usuários a inalarem o aerosol pelo máximo de tempo possível, provocando complicações respiratórias e cardíacas fatais.
Apesar de não existir estatística, a trágica morte de Sarah não é um caso isolado. Em Pernambuco, Brenda Sophia Melo de Santana, de 11 anos, morreu em 11 de março. Adrielly Gonçalves, 7, morreu em São Bernardo do Campo (SP) pelo mesmo motivo, em 2018.
No caso ocorrido no Distrito Federal, a angústia dos familiares de Sara, que vivem em Ceilândia, começou na última quinta-feira. Aos prantos, Maria Irina conta que a criança estava sob os cuidados do avô enquanto os pais trabalhavam. "Ela entrou no quarto com o celular na mão. O avô pensou que ela ia dormir. Quando o pai chegou do serviço, e foi vê-la, ela estava na cama, toda roxa. Ao lado dela, tinha uma embalagem de desodorante. O celular estava aberto e reproduzia o vídeo do desafio", completa.
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Desesperada, a família pediu socorro ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ela foi levada para a emergência do Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde deu entrada com um quadro de parada cardiorrespiratória. Os médicos tentaram reanimá-la por cerca de 60 minutos, mas ela não apresentou reflexos. A morte cerebral foi constatada ainda na quarta-feira. Mas o óbito foi oficialmente declarado ontem.
Sem recursos, os pais de Sara criaram uma vaquinha para custear o funeral. As doações podem ser realizadas através da chave Pix 61993086397, em nome de Maria Fabiana Pereira Brandão, mãe da menina. O velório e enterro são hoje, no Cemitério de Taguatinga, a partir de 14h.
Investigação
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A família da criança registrou boletim de ocorrência na 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro). Um inquérito foi instaurado para esclarecer de que forma a criança teve acesso ao conteúdo e identificar o responsável pela publicação na rede social. Segundo o delegado-chefe da unidade policial, João Ataliba, caso haja comprovação de dolo ou negligência grave, o autor poderá responder por homicídio duplamente qualificado — por meio que pode causar perigo comum e por ter sido praticado contra menor de 14 anos — crimes cujas penas podem chegar a 30 anos de prisão.
Comoção
O caso gerou forte repercussão nas redes sociais. Nos comentários, uma mãe relatou que a filha também foi vítima do desafio do desodorante. "Em 2023, eu a flagrei no banheiro desfalecida. Meu esposo conseguiu trazê-la de volta. Não desejo isso a ninguém", escreveu. Segundo ela, desde então, o acesso da filha à internet passou a ser rigorosamente monitorado.
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A nutróloga Daniela Queiroga, de Brasília, publicou um vídeo emocionado sobre a morte de Sara. "Uma menina de 8 anos, sem nenhuma doença, (morta) por conta de uma brincadeira de muito mau gosto", disse. Ela reforçou o apelo para que pais conversem com seus filhos e denunciem conteúdos perigosos. "Fica o alerta. Esses desafios não devem ser feitos. Isso é um absurdo", disse, entre lágrimas.
*Nome fictício usado para preservar a identidade da entrevistada.