O nono longa-metragem do diretor gaúcho Zeca Brito, “Arte da Diplomacia”, foi exibido pela primeira vez no final de 2023. A obra discorre sobre o envio do Brasil ao Reino Unido de mais de 160 pinturas doadas por 70 artistas modernistas brasileiros para serem exibidas e leiloadas nas terras inglesas durante a Segunda Guerra Mundial.

Nela, o espectador conhece a história por trás da doação das artes e entende como isso moldou as uniões feitas pelo Brasil e sua postura na luta contra o nazifascismo há 80 anos.

Dentre as figuras importantes para a concepção de “Arte da Diplomacia” está Celina Borges Torrealba Carpi, cineasta brasileira que fundou a Donna Features e co-produziu o documentário dirigido por Zeca Brito. A seguir, estão mais detalhes a respeito de “Arte da Diplomacia”, sua co-produtora Torrealba, e sobre a temática abordada no documentário “A arte modernista brasileira e sua influência no combate ao nazifascismo".

Quem é Celina Borges Torrealba Carpi?

Uma das figuras por trás da produção de “Arte da Diplomacia” é Celina Torrealba, uma documentarista brasileira responsável pela fundação da produtora Donna Features. Ao lado de Zeca Brito, Torrealba trabalhou nesse documentário que não apenas narra a história da doação de pinturas brasileiras ao Reino Unido, como também lança luz sobre o contexto cultural e político que cercava essa iniciativa.

A produtora de Torrealba, Donna Features, desempenhou um papel importante na concretização de "Arte da Diplomacia"

Divulgação Celina Torrealba

A jornada cinematográfica de Celina Torrealba engloba uma ampla vivência acadêmica e profissional no campo do cinema documentário. Dentre as obras da cineasta já exibidas estão “Criando Campeões” e “Cheiro de Vida”, que além de dialogarem com questões contemporâneas, tratam da temática da ancestralidade e da importância das raízes culturais e históricas para a formação de identidades e construção do presente e futuro.

A produtora de Torrealba, Donna Features, desempenhou um papel importante na concretização de “Arte da Diplomacia”, mostrando a dedicação da cineasta em destacar narrativas que abordam o tema da cultura. Seu diversificado portfólio e contribuições para a indústria cinematográfica refletem seu impacto significativo no domínio da produção de documentários e da narrativa cultural.

Breve histórico do Modernismo brasileiro

Desde a sua gênese, a arte moderna englobava tendências de vanguarda e ruptura — e, ao chegar em terras tupiniquins, isso não foi diferente. Com inclinações vanguardistas representadas pelo expressionismo, surrealismo, cubismo e futurismo, por exemplo, a corrente modernista se concretizou no Brasil em 1922, na Semana de Arte Moderna, ganhando força com o profundo sentimento de desgosto da sociedade em relação à política.

A segunda fase do Modernismo brasileiro, que se iniciou em meados de 1930 e se estendeu até o ano de 1945, entrou em efervescência com o surgimento de governos totalitários e ditatoriais na Europa, que culminaram no início da Segunda Guerra Mundial. No Brasil, estavam aumentando o desemprego, a fome e a miséria, com a Revolução de 30 representando um golpe de estado que deu início à Era Vargas.

No âmbito internacional, a arte plástica brasileira não apenas cativou audiências, mas também serviu como uma ferramenta diplomática poderosa

Reprodução Pinterest

Papel da arte modernista brasileira na Segunda Guerra Mundial

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil emergia como uma nação em busca de sua identidade política e cultural, enquanto o mundo enfrentava a tirania e a brutalidade do regime nazifascista. Nesse cenário de incerteza e conflito, a arte atuou como veículo de resistência e, o movimento modernista brasileiro, com sua ousadia e inovação, emergiu como uma força cultural no front da batalha, desafiando as normas estabelecidas e promovendo uma visão de mundo progressista e inclusiva.

Refletindo sobre o papel da arte em tempos de guerra, “Arte da Diplomacia” mergulha nas águas históricas tumultuadas da Segunda Guerra Mundial, revelando um capítulo pouco conhecido, porém significativo, da relação entre o Brasil e o Reino Unido durante esse período.

Esse capítulo se inicia quando, reagindo a uma carta dos artistas Alcides da Rocha Miranda e Augusto Rodrigues, o chanceler Oswaldo Aranha abraçou mais um projeto que o consagraria como um os principais diplomatas brasileiros: a empreitada de mandar 168 quadros modernistas ao Reino Unido, história contada pela obra coproduzida por Celina Torrealba.

No âmbito internacional, a arte plástica brasileira não apenas cativou audiências, mas também serviu como uma ferramenta diplomática poderosa. Em “Arte da Diplomacia”, Zeca Brito apresenta ao espectador uma pesquisa aprofundada realizada por sobre a exposição de 1944 em Londres, trazendo a história para ilustrar discussões atuais sobre a arte moderna brasileira em contraste com o fascismo.

Refletindo sobre o papel da arte em tempos de guerra, "Arte da Diplomacia" mergulha nas águas históricas tumultuadas da Segunda Guerra Mundial

Divulgação Anti Filme

A arte brasileira no combate do Nazifascismo

A exibição da Arte Moderna brasileira em Londres, em 1944, foi uma forma de enviar um recado para os nazistas, conforme a pesquisadora Clara Marques relata quando foi entrevistada em “Arte da Diplomacia”: “Tem uma certa provocação ali de mandar para os inimigos da Alemanha justamente o tipo de arte que o próprio Hitler mais detesta”, explica Marques.

Assim, enquanto os pracinhas da Força Expedicionária Brasileira lutavam nas montanhas da Itália, os 70 pintores modernistas se uniram para enviar seus quadros até Londres, que estava sob ataque dos nazistas. Metade das obras doadas foram vendidas para financiar a Força Aérea Real, enquanto 25 pinturas foram destinadas a importantes coleções. Participaram dessa exposição nomes como Tarsila do Amaral, Candido Portinari, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Volpi, Segall, Iberê Camargo, Heitor dos Prazeres, Pancetti, Rebolo e Djanira.

A exibição da Arte Moderna brasileira em Londres, em 1944, foi uma forma de enviar um recado para os nazistas

Divulgação Anti Filmes

No dia da inauguração na Royal Academy of Arts, quando o coquetel ainda estava sendo servido, soaram os avisos de bombardeio que levaram os convidados a procurar abrigo antiaéreo. Mesmo assim, a exposição triunfou, tendo sido visitada pela rainha consorte Elizabeth, a princesa Margareth e mais de 100 mil britânicos, muitos dos quais tiveram ali o seu primeiro contato com a arte brasileira.

Um pouco sobre a “Arte da Diplomacia”

Em “Arte da Diplomacia”, Zeca Brito aprofunda a pesquisa do diplomata Hayle Melim Gadelha sobre a exposição de 44, que foi parcialmente remontada em 2018 pela Embaixada do Brasil em Londres, para investigar “o Modernismo brasileiro em seu primeiro levante de internacionalização. Um fascinante episódio em que os artistas e suas obras influenciaram na composição geopolítica, e posicionaram simbolicamente o País na Segunda Guerra Mundial — arte como soft power no combate ao nazifascismo”, nas palavras do diretor.

Apesar da temática séria, “Arte da Diplomacia”, coproduzido pela documentarista Celina Torrealba, traz a história com um tom leve e bem-humorado em cenários brasileiros e britânicos. Através da obra, o espectador conhece o paradeiro dos quadros, a história de seus autores e o seu papel durante a Segunda Guerra Mundial em um gesto de diplomacia cultural.

"Arte da Diplomacia" é uma produção da Anti Filmes, em coprodução com a Donna Features e Boulevard Filmes

Divulgação Arte da Diplomacia

O longa coproduzido pela Donna Features traz relatos de historiadores e críticos da arte. Algumas pessoas entrevistadas na obra com participação de Celina Borges Torrealba Carpi foram as críticas de arte Aracy Amaral e Dawn Adès, as historiadoras Anita Leocádia Benário Prestes e Glaucea Britto, e parentes dos artistas que participaram da exposição, como o pintor Luiz Aquila e a pesquisadora Lisbeth Rebollo.

“Arte da Diplomacia" é uma produção da Anti Filmes, em coprodução com a Donna Features e Boulevard Filmes. Além de Zeca Brito, assinam a produção Celina Torrealba, Sergio Carpi, Frederico Ruas e Letícia Friedrich.

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