Realizada em Dubai desde o dia 30 de novembro, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023 – mais conhecida pela sigla COP28 –, reúne mais de 200 países para discutir a crise climática e tentar buscar soluções para os graves efeitos que ela vem causando no mundo. Afinal de contas, o momento é crítico: 2023 já foi confirmado como o ano mais quente no planeta desde o início das medições oficiais, e eventos climáticos extremos estão aumentando tanto em frequência quanto em intensidade. Que o diga o Brasil, que enfrenta neste ano uma seca histórica na Amazônia, tornados e enchentes no Sul e ondas de calor no Sudeste e Centro-Oeste.


Na conferência, vários discursos de autoridades – inclusive do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva – ressaltaram a gravidade do momento que o planeta atravessa, já que a elevação das temperaturas globais vem afetando a economia dos países, causando uma perda acelerada de biodiversidade e interferindo profundamente na vida das pessoas. Também foram feitos anúncios relevantes, como a promessa de 110 países (Brasil incluído) de triplicar até 2030 a produção de energia renovável, o compromisso dos EUA de parar de usar carvão – responsável por cerca de 40% das emissões de combustíveis fósseis– nas suas usinas até 2035 e a criação de um fundo bilionário para apoiar as regiões mais afetadas pela crise climática.


São iniciativas e medidas importantes. Mas o mundo verde das conferências e dos debates vem se mostrando muito diferente do real, que segue firme no uso dos combustíveis fósseis e não demonstra muita vontade de parar – pelo contrário. Um exemplo desse descompasso é a própria COP, que é realizada anualmente desde 1995, mas que provocou pouco ou quase nada em termos de ação efetiva para frear as emissões dos gases do efeito estufa. Outro exemplo do descolamento entre promessa e realidade é o Acordo de Paris, fechado em 2015 e que pretendia limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC. Oito anos depois, o mundo caminha a passos largos para um aumento entre 2,5ºC e 3ºC, o que representa um aumento nos eventos climáticos extremos de proporções ainda inimagináveis.


Os encontros e as cúpulas são importantes, claro. É na discussão aberta e na troca de ideias que surgem as soluções inovadoras. Na COP28, os representantes de diferentes países podem compartilhar conhecimentos, experiências e perspectivas, promovendo um entendimento mais profundo das complexidades envolvidas na mitigação dos efeitos da crise climática. Mas falta ação, faltam medidas sérias e obrigatórias, que não estejam ao sabor do vento político de cada país – como a retirada um tanto quanto abrupta dos EUA do Acordo de Paris pelo ex-presidente Donald Trump em 2017. Por enquanto, ninguém assumiu, de forma clara e evidente, compromissos concretos e ações imediatas, como um plano com metas e um cronograma de curto prazo para a eliminação do uso de combustíveis fósseis, com uma punição severa para o país que descumprir o acordado.


Mas, como os problemas climáticos do Brasil deixaram claro, é urgente que a mudança comece para valer. Chegou o momento de os líderes mundiais deixarem de lado a retórica vazia e abraçarem a responsabilidade coletiva. A COP28 não pode ser apenas palco para discursos; deveria ser o catalisador para a transformação global. O futuro do planeta depende da capacidade de agir agora, de maneira decisiva e unificada, para garantir um ambiente sustentável para as gerações futuras. Não há mais tempo a se perder.