Um alerta divulgado pelo Ministério da Saúde na última sexta-feira apontou que as regiões Centro-Oeste e Sudeste (principalmente Minas Gerais e Espírito Santo) devem viver uma epidemia de dengue em 2024.
Outras regiões, como o Nordeste e o Sul, principalmente no Paraná, também devem ter um aumento no número de casos, mas sem chegar ao nível epidêmico. Em 2023, os casos de dengue no Brasil aumentaram 15,8% em relação ao ano passado, passando de 1,3 milhão de registros em 2022 para 1,6 milhão este ano. Foram 1.053 mortes em 2023 e 999 no ano passado. Entre os motivos para o aumento, na avaliação do ministério, estão fatores como as mudanças climáticas e o aumento das chuvas, a mudança na circulação de sorotipo do vírus, com as variações 3 e 4 predominando no país, e o número de pessoas que possuem alguma predisposição à doença, além de crianças e idosos.
É um aviso preocupante. Diante do risco, o governo federal anunciou uma verba de R$ 256 milhões destinados a ações nacionais contra a dengue e ao monitoramento da doença. Uma das medidas mais eficazes que deve ser considerada é a incorporação de uma vacina contra a dengue no calendário do Sistema Único de Saúde (SUS). O Ministério da Saúde tem a expectativa de decidir, ainda neste ano, sobre a adoção da Qdenga, fabricada pela empresa japonesa Takeda Pharma, e que tem eficácia de 84% de redução da hospitalização em casos de dengue. Outra medida crucial será intensificar as ações de controle do vetor. A erradicação de criadouros do mosquito Aedes aegypti, por meio de campanhas educativas, coleta de lixo eficiente e tratamento adequado de águas paradas deve ser uma prioridade para os próximos meses. Entre as ações que o governo federal pretende adotar neste âmbito também estão a distribuição de larvicidas, para ser aplicado nos focos de reprodução do mosquito, e a soltura de Aedes aegypti que receberam a bactéria Wolbachia, que inibe a transmissão de doenças.
Por ser a esfera federal, a ação do Ministério da Saúde é fundamental na coordenação desta atuação, que precisa ter a adesão dos governos estaduais e municipais, deixando de lado diferenças políticas e focando na proteção da população. A coordenação de esforços é necessária para implementar estratégias abrangentes de prevenção, controle e tratamento da dengue. Mas para que o combate à doença seja bem-sucedido e a epidemia que se avizinha tenha seus efeitos mitigados, é preciso também que as pessoas façam a sua parte. Afinal de contas, o Brasil enfrenta o problema da dengue há décadas, e boa parte da população tem consciência do que precisa ser feito. Mesmo assim, dados divulgados pelo Ministério da Saúde apontaram que, em 2023, 74,8% dos focos de criação do Aedes aegypti estão dentro de domicílios. São vasos de plantas, garrafas, fontes, bebedouros, recipientes de degelo em geladeiras e materiais estocados que seguem acumulando água e se tornando propícios para a reprodução do mosquito da dengue.
As autoridades já repetiram à exaustão – e é obrigatório que continuem repetindo – o que precisa ser feito dentro das casas das pessoas. Uma prevenção eficaz demanda a colaboração de todos os setores da sociedade, e é necessário que todos se engajem no combate ao Aedes aegypti. A limpeza dos potenciais focos do mosquito, com a eliminação da água parada, é uma medida simples e que pode ser incorporada à rotina da casa. A falta de ação pode levar a consequências devastadoras para a saúde pública e a sobrecarga dos sistemas de saúde pública, que já estão fragilizados.