Teve um fim trágico a busca da Força Aérea Brasileira pelo helicóptero que havia desaparecido na virada do ano, no trajeto entre São Paulo e Ilhabela. A procura durou 12 dias e terminou na última sexta-feira, quando a aeronave modelo Robinson 44 foi localizada em uma área de mata fechada no município de Paraibuna (SP). Os quatro ocupantes – três passageiros e um piloto – morreram na queda. Durante o voo, uma das passageiras filmou as péssimas condições climáticas, com chuva e neblina, e há o registro de que o helicóptero chegou a fazer um pouso em um descampado antes de tentar retomar a viagem.


Não foi o único caso envolvendo helicópteros neste ano. Ocorreram outros dois registros, desta vez em Minas Gerais. No dia 2 de janeiro, uma aeronave que transportava quatro pessoas caiu no Lago de Furnas, deixando uma pessoa morta. No início da semana passada, em Belo Horizonte, um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal que atendia um acidente envolvendo uma carreta fez um pouso forçado logo após decolar, danificando casas no entorno.


É uma sequência alarmante de acidentes, principalmente quando se considera que o Brasil tem uma das maiores frotas de helicópteros do mundo, com mais de 2.000 aeronaves do tipo, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). São Paulo, a cidade do mundo com o maior número de helicópteros, conta com mais de 410 aparelhos, que realizam 2.200 decolagens e aterrissagens por dia. Rio de Janeiro e Belo Horizonte também contam com frotas consideráveis.


Pelas próprias dimensões das máquinas, o transporte por helicópteros é restrito a poucas pessoas por viagens, que são normalmente operadas por empresas de táxi aéreo em centenas de helipontos. É um mercado extremamente pulverizado – ao contrário da aviação civil comercial, que concentra as operações em aeroportos e em grandes jatos – e, por isso mesmo, mais difícil de ser controlado.


Mas, como os três acidentes em pouco tempo deixou claro, a Anac e o governo devem intensificar ainda mais as fiscalizações sobre os helicópteros e seus pilotos. Um dos exemplos dessa necessidade vem justamente do acidente em São Paulo. Comandante da aeronave que caiu em Paraibuna, Cassiano Tete Teodoro, de 44 anos, chegou a ter a licença de voo cassada, após acusações de má conduta. Mas após cumprir a punição máxima, de dois anos de suspensão e a realização de novos cursos, ele recuperou a autorização, três meses antes do acidente.


É fundamental, portanto, que as exigências para os pilotos do país sejam mais rígidas, de modo a tentar evitar que condutores inapropriados assumam os manches das aeronaves. Além disso, os descumprimentos das regras devem ser punidos com muito mais rigor pelas autoridades responsáveis, com prazos maiores de suspensão para quem chegar a perder o brevê de voo. No transporte aéreo civil, mais imposições são sinônimo de mais segurança. Por fim, todos os casos recentes de quedas de helicópteros devem ser investigados à exaustão, com transparência, e as responsabilidades pelos acidentes devem ser reconhecidas e devidamente corrigidas.


Mas nada disso adiantará se os pilotos de helicópteros de todo o Brasil não adotarem o binômio da prudência e da perícia. Os motivos da queda da aeronave em Paraibuna ainda estão sendo investigados, mas as péssimas condições climáticas no momento do voo e a insistência do piloto em chegar ao destino, mesmo com baixíssima visibilidade, podem ter contribuído para o acidente fatal – e que seria evitado se as regras do bom-senso tivessem sido respeitadas. Se cada um fizer sua parte, as viagens aéreas do país estarão mais seguras para todos.