No mês que vem, o Ministério da Saúde começa a oferecer, via Sistema Único de Saúde (SUS), a Qdenga, vacina contra a dengue, que passa a ser incorporada no Programa Nacional de Imunizações (PNI). Embora o Brasil seja considerado o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante de forma gratuita, as doses não serão oferecidas em larga escala – e aí não será por culpa das autoridades brasileiras, e, sim, porque a farmacêutica responsável por produzir a vacina, a Takeda Pharma, não tem capacidade de produção suficiente para a demanda brasileira.


Fato é que o ciclo completo de imunização pela vacina Qdenga é atingido com duas doses, com eficácia geral de 80,2% nos ensaios clínicos contra a dengue, causada por qualquer sorotipo após 12 meses da segunda dose. A ideia das autoridades em saúde é iniciar a vacinação a partir de regiões prioritárias e de um público específico, ou seja, aquelas áreas em que a incidência da doença é maior. Dados mais recentes apresentados pelo Ministério da Saúde mostram um aumento significativo de casos de dengue – de 15,8%, em 2023 – se comparado ao ano anterior, o que resultou em 1,3 milhão de registros em 2022 para 1,6 milhão no ano passado.


E, infelizmente, em 2023 foi registrado o maior número de mortes por dengue em um único ano, segundo o painel de monitoramento das arboviroses do ministério. Até 27 de dezembro, foram confirmadas 1.079 mortes e outras 211 estão em processo de investigação, aguardando os resultados.


Como se vê, a dengue continua matando, apesar de iniciativas louváveis, como a de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que colonizaram a bactéria Wolbachia, capaz de neutralizar a transmissão de doenças em alguns tipos de mosquitos, a exemplo do Aedes aegypti, que também transmite zika e chikungunya. Introduzida em mosquitos, a bactéria pode estabelecer novas populações do inseto com Wolbachia, portanto, sem possibilidade de transmissão de doenças.


No entanto, a pesquisa ainda não é representativa do ponto de vista de robustez no que se refere à adesão ao projeto, presente em alguns poucos municípios brasileiros, como Rio de Janeiro, Niterói (RJ), Campo Grande (MS), Belo Horizonte (MG), Petrolina (PE), entre outros.


Além disso, ao contrário de avanços em diversas áreas da ciência, especialistas alertam para o crescimento dos números da dengue neste ano, já que são muitos os sinais para que isso ocorra: pela primeira vez, em 15 anos, há casos de dengue ligados ao sorotipo 3, que andou sumido em recentes surtos ou epidemias pelo menos nos últimos 10 anos.


E a preocupação tem sentido: uma pessoa que teve dengue causada por um determinado sorotipo pode ter reinfecção, decorrente de outros sorotipos, correndo o risco de desenvolver um quadro mais grave da doença, com possibilidade de internação e óbito. A expectativa é que, com a chegada do novo imunizante, as hospitalizações por dengue sejam reduzidas em 90%. Agora é aguardar a campanha de vacinação conduzida pelo Ministério da Saúde e torcer para que seja incorporada pela sociedade de forma efetiva ao calendário nacional.estad

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