Gregório José
Jornalista, radialista e filósofo. Pós-graduado em Gestão Escolar, em Ciências Políticas e em Mediação e Conciliação. MBA em Gestão Pública
O Brasil encerrou o primeiro mês do ano carregando consigo um fardo de dois pontos a menos e uma posição 10 degraus abaixo no ranking que pinta um quadro da integridade do setor público. O tal Índice de Percepção da Corrupção (IPC) de 2023, lançado pela Transparência Internacional, pinta o país lá em 104º lugar entre 180 nações, ostentando modestos 36 pontos numa régua que vai de 0 a 100, onde, claro, quanto mais alto, melhor.
Desde 2015, esse documento vem desfiando uma trama anual, e agora, em sua última edição, joga na nossa cara que mais de dois terços dos países ficaram abaixo dos 50 pontos, com uma média global dançando nos 43. Na América, ficamos na rabeira, atrás do Uruguai com seus 76 pontos, além do Chile e Argentina, ambos com 37 pontos. Quem leva a medalha de ouro da integridade é a Dinamarca, com 90 pontos, enquanto a lanterna da honestidade acende para a Somália, mirrada com apenas 11 pontos.
Análise desta divulgação feita pelo cientista político André César divide a reflexão em dois tons: o lado sombrio, que denuncia a corrupção enraizada, e o lado luminoso, que indica que, pelo menos, o povo está de olhos bem abertos. Ele joga um olhar observador sobre os países lá no topo, apontando como eles lidam, de maneira eficaz, com a corrupção.
Mas quando a lente se volta para as terras tupiniquins, um panorama de décadas de escândalos, desde mensalão até Lava-Jato, pinta uma narrativa de desconfiança generalizada, uma sombra persistente que deixa todos de orelha em pé.
Nos corredores do Congresso, o pessoal não ficou calado ao ver a peça divulgada. O senador Sergio Moro, representando a União Brasil, não economiza palavras. Ele até previa a queda vertiginosa do Brasil nesse ranking, argumentando que, afinal de contas, temos um presidente cujas condenações por corrupção foram anuladas, sem que sua inocência fosse afirmada. Afiado como uma faca, ainda dispara contra a falta de atitudes para conter o avanço da corrupção. Ele aponta o dedo para a inércia do governo, que parece mais interessado em abrir caminho para o loteamento político do que em combater a corrupção. E aquela visita do Lula à refinaria Abreu e Lima, que já foi palco de tantos desmandos, só aumenta o desalento, sem qualquer sinal de autocrítica.
E como fica a reputação do Brasil no palco internacional? Moro e André César estão na mesma sintonia. O cientista político aponta que pode afetar a visão dos investidores sobre o país, fazendo-os hesitar diante dos problemas que temos por aqui. Ninguém quer arriscar e levar um chapéu nas negociações.
A Controladoria Geral da União (CGU), por sua vez, divulgou nota defendendo que trabalham duro todos os dias para detectar e corrigir riscos de corrupção. O ministro Vinícius Marques de Carvalho, da CGU, até criticou a pesquisa nas redes sociais, mas a dança da corrupção continua, e a plateia internacional observa, desconfiada.
Em meio ao cenário desafiador do índice global de corrupção, é hora de uma reflexão profunda. Recado aos brasileiros: cada um, no seu papel cotidiano, contribua para uma sociedade mais íntegra. Sejamos agentes da mudança, promovendo a honestidade em cada ato, desafiando a cultura da corrupção que, lamentavelmente, ainda persiste. A transformação começa em cada um de nós.