O Brasil da abundância de água potável, das florestas exuberantes, sem terremotos, furacões ou tufões está ficando ou já ficou para trás e o cenário futuro pode ser devastador se medidas urgentes não forem tomadas para salvar o “país tropical, abençoado por Deus” dos impactos das mudanças climáticas e da ganância humana. Estudos recentes, que mostram a identificação da primeira região árida no país, trazem a perspectiva de a Amazônia chegar ao ponto de não retorno. Eventos climáticos, como ciclones e secas que quase puseram fim à perenidade de rios amazônicos, alertam para a necessidade urgente de se adotar ações para reverter esse quadro. Pagaremos um preço muito alto se não nos atentarmos para a gravidade do quadro.


Um estudo publicado na Nature e divulgado há uma semana mostra que quase metade dos 5,5 milhões de quilômetros quadrados da floresta amazônica pode conviver com fatores de degradação que a levariam a um ponto de não retorno, ou seja, sem mais possibilidade de recuperação até 2050. A floresta que se formou ao longo de séculos pode estar parcialmente perdida em apenas 26 anos. Esse seria o ponto em que a morte acelerada da floresta provocaria mudanças no bioma e o colapso de extensas áreas. É preciso lembrar que a Amazônia legal corresponde a 59% do território brasileiro e a 67% das florestas tropicais no mundo.


O impacto da destruição será global, com implicações na biodiversidade e na disponibilidade de recursos. Embora o desmatamento tenha recuado em 2023, com queda de 50%, a floresta sofre os efeitos de anos de cortes de árvores e garimpos ilegais. Nos últimos 30 anos a temperatura média da floresta aumentou 1oC, com efeito sobre a floresta e sobre o clima das regiões Centro-Oeste e Sudeste, abastecidas de chuva pela umidade da região amazônica. O resultado pode ser anos muito mais quentes e com secas prolongadas, afetando um dos maiores polos de produção de alimentos do país.


E não é apenas a floresta que sofre as consequências das mudanças climáticas. Um estudo do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) constata que uma área de 5,7 milhões de quilômetros quadrados no Norte da Bahia já é classificada com clima árido, o que deixa o local nas mesmas condições de um deserto. O levantamento considerou dados históricos entre 1960 e 2020, ou seja, não se trata de uma projeção, mas sim de uma comprovação. Enquanto a temperatura no mundo ficou 1,1oC mais alta entre 2011 e 2020 em relação ao período logo após a Revolução Industrial, no Brasil o aumento foi de 1,5oC, com algumas regiões chegando a 3oC.


De outro lado, uma medida que poderia aliviar a pressão sobre a floresta praticamente não saiu do papel. No ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu retomar o compromisso assumido no âmbito do Acordo de Paris, em 2015, de reflorestar 12 milhões de hectares de vegetação nativa. Desde 2016, o Brasil reflorestou apenas 79 mil hectares, ou apenas 0,65% da meta brasileira. Cálculos indicam que para cobrir essa área seria necessário o plantio de 8 bilhões de árvores. É preciso que o país crie um sistema de reflorestamento para aliviar as pressões climáticas, mas é necessário que seja feito agora, sob pena de não termos mais tempo.

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