João Alfredo Lopes Nyegray
Advogado, doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia, especialista em Negócios Internacionais
Os estadunidenses vão às urnas neste ano para eleger – ou reeleger – aquele que comandará a nação mais poderosa do planeta pelos próximos quatro anos. Ao contrário do que ocorre no Brasil, nos Estados Unidos os cidadãos não votam diretamente no presidente. Em vez disso, eles votam em eleitores estaduais, que compõem o chamado Colégio Eleitoral. Cada estado tem um número de eleitores equivalente à soma de seus representantes no Congresso (Senado e Câmara dos Deputados).
As eleições dos EUA estão marcadas para 5 de novembro. No mês seguinte, dezembro, os eleitores do Colégio Eleitoral se reúnem em seus estados para votar no presidente e no vice-presidente. A maioria dos estados atribui todos os seus votos eleitorais ao candidato que venceu a votação popular no estado. O candidato que obtém a maioria absoluta dos votos do Colégio Eleitoral (270 de um total de 538) é eleito presidente. Em janeiro, o Congresso se reúne para contar os votos eleitorais e ratificar o resultado.
No pleito deste ano temos um candidato definido: o atual presidente Joe Biden, do Partido Democrata, o mais antigo dos dois principais partidos políticos dos EUA, tendo suas raízes no Partido Democrático-Republicano fundado por Thomas Jefferson e James Madison no início do século 19. Tradicionalmente, o partido tem sido associado a políticas progressistas, incluindo defesa dos direitos civis, bem-estar social e uma maior intervenção do governo na economia.
O democrata Joe Biden é o 46º presidente dos Estados Unidos. Biden graduou-se em Direito pela Universidade de Syracuse e logo entrou para a política, sendo eleito para o Senado pelo estado de Delaware em 1972, aos 29 anos, tornando-se um dos senadores mais jovens da história americana. Durante suas décadas no Senado, Biden ganhou reputação como um político moderado, experiente em questões de política externa e justiça criminal.
Aos 81 anos, o atual mandatário dos EUA tem apresentado lapsos frequentes de memória e algumas gafes notáveis: confundiu a Ucrânia com o Irã, leu instruções dirigidas a ele mesmo no teleprompter em voz alta e misturou o nome do atual presidente da França, Emmanuel Macron, com o de François Mitterrand, presidente francês que morreu em 1996. Esses lapsos, somados às quedas frequentes em comícios e eventos públicos, bem como questionamentos sobre sua idade, devem se tornar pontos de crítica contra o democrata no pleito deste ano.
Do outro lado, pelo Partido Republicano, há indefinições. O Partido Republicano foi fundado em 1854 por opositores à expansão da escravidão; rapidamente ganhou força e elegeu seu primeiro presidente, Abraham Lincoln, em 1860. Tradicionalmente, tem sido associado a políticas conservadoras, incluindo a defesa dos direitos individuais, a promoção da economia de mercado livre e uma abordagem governamental menos intervencionista na economia.
Uma das pleiteantes à indicação do Partido Republicano é Nikki Haley, nascida Nimrata Randhawa, em 20 de janeiro de 1972. Haley nasceu em uma família de imigrantes indianos em Bamberg, Carolina do Sul, e frequentou a Universidade de Clemson, onde se formou em contabilidade. Sua carreira política iniciou na Câmara dos Representantes da Carolina do Sul, representando o distrito de Lexington County de 2005 a 2011. Depois, em 2010, Haley fez história ao se tornar a primeira mulher eleita governadora da Carolina do Sul e a primeira governadora de ascendência indiana em qualquer estado americano. Ela foi reeleita para um segundo mandato em 2014. Em 2017, Haley foi nomeada pelo presidente Donald Trump como embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas.
Embora tenha ganhado força dentro do Partido Republicano, Haley está bem longe de ser uma candidata à altura de Trump. Recentemente, nas primárias republicanas no estado de Nevada, Haley ficou em segundo lugar, tendo perdido para a única outra opção da cédula: "nenhum dos candidatos". Ou seja: ficou em segundo lugar mesmo sendo a única a competir.
Tudo indica que o controverso ex-presidente Donald Trump será a nêmesis de Joe Biden nas eleições deste ano. Trump iniciou sua carreira trabalhando para a empresa imobiliária de seu pai e eventualmente expandiu seus negócios para o setor imobiliário em Manhattan. Ele construiu um império imobiliário que inclui hotéis, cassinos e propriedades comerciais, mas o que lhe conferiu destaque na grande mídia foi o reality show "The Apprentice", em que se tornou conhecido por seu slogan "Você está demitido!".
Ainda que tenha saído da presidência em 2021 após ser derrotado por Biden no ano anterior, Trump jamais se afastou dos holofotes. Durante e após sua campanha presidencial de 2016, houve investigações sobre a possível interferência da Rússia nas eleições e se a campanha de Trump colaborou com esses esforços. Além disso, o republicano enfrentou dois processos de impeachment: o primeiro, em 2019, relacionado a acusações de abuso de poder e obstrução do Congresso em relação à sua solicitação à Ucrânia para investigar Joe Biden e seu filho. O segundo, em 2021, estava relacionado ao papel de Trump no incitamento ao ataque ao Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021. Ainda, mais de uma dúzia de mulheres acusaram Trump de assédio sexual ou má conduta sexual.
Esses processos e acusações mantiveram o magnata em constante destaque nos noticiários durante o mandato de Biden. Por essas razões – somadas aos questionamentos deixados por Trump sobre a lisura do processo eleitoral que perdeu – é natural que o escolhido do Partido Republicano seja ele, que continua sendo um político muito popular, não apenas questionando Biden, mas também expondo os lapsos de memória e comportamento do democrata.
O que coloca o mundo em alerta em um segundo mandato de Trump é a possibilidade de que a maior economia do mundo volte ao isolacionismo defendido pelo republicano. Trump já questionou o auxílio militar à Ucrânia e, certamente, tornaria ainda mais acirrada a já existente rivalidade comercial e tecnológica entre EUA e China. Seria, sem dúvidas, um aprofundamento de um longo cisma entre os EUA, o Ocidente e o Oriente em ascensão.