O Dia Internacional da Mulher não é feito de comemorações, festas, celebrações. Embora muitos ainda acreditem que seja assim – apenas um momento de presentear com flores e abraçar esposa, colegas de trabalho e amigas – se torna importante destacar o caráter político do 8 de Março e reverenciar a trajetória de lutas que culminaram numa data tão especial. Mais uma vez, o dia de hoje deve abrir portas tanto para a reflexão como para as conquistas, prestar atenção nos desrespeitos e registrar os avanços na legislação, e ficar de olho nos preconceitos e nas batalhas em nome dos direitos civis.
Homens e mulheres sabem que a sociedade já superou obstáculos na igualdade de gêneros, mas há muito para ser feito, especialmente quanto à violência contra elas em todo o mundo. Na semana passada, todos viram e ouviram, estarrecidos, a notícia do estupro coletivo de uma brasileira, na Índia. “Que mundo é esse?”, é de se perguntar. A resposta, trágica, é simples: Um mundo que, em muitas de suas regiões, vê a mulher como presa fácil para o abate animalesco.
No Brasil, os dados ainda são assustadores. No ano passado, pelo menos oito mulheres foram vítimas de violência doméstica a cada 24 horas. No total, houve registro de mais de 3 mil mulheres vítimas de agressões, torturas, ofensas, assédio e feminicídio, num aumento de 22,4% em relação a 2022. Os números foram divulgados pela Agência Brasil, com base na Rede de Observatórios da Segurança e no boletim “Elas vivem: Liberdade de ser e viver”.
Os relatos chocam pela crueldade dos agressores, que se valem de um tapa no rosto, um corte no pescoço ou um tiro no coração para abater a mulher, a companheira, a namorada. Os dados monitorados apontaram 586 vítimas de feminicídio, mostrando que, a cada 15 horas, uma mulher morreu em razão do gênero, nas mãos de parceiros ou ex-parceiros portando armas brancas ou armas de fogo.
Se as estatísticas de violência contra a mulher assustam a população e preocupam autoridades, há passos decisivos para coibir os abusos, com orgulho para o Brasil. Um deles é a lei federal Maria da Penha, que entrou em vigor em 22 de setembro de 2006 e tem reconhecimento internacional como ferramenta importante para o enfrentamento da violência contra as mulheres.
Mas se o Dia Internacional da Mulher é de reflexão e luta, é também de fortalecimento, valorização, reconhecimento. Sem esperar nada em troca, e fazendo valer a solidariedade, muitas mulheres agem de boa vontade para socorrer os semelhantes. Com gestos de carinho, com os ouvidos prontos para escutar sofrimentos alheios ou oferecendo um prato de comida a quem tem fome, elas, sozinhas ou coletivamente, fazem sua parte para um mundo melhor. E mais digno.
Humanidade é palavra feminina, e engloba homens e mulheres. Presente e futuro, palavras masculinas, devem oferecer espaço para todos e todas. “Ser humano”, comum de dois gêneros, é o fundamental para a harmonia, a busca de igualdade e justiça. Afinal, num planeta tão conturbado, a paz não depende apenas de um dia, mas de bilhões e bilhões de minutos de união. E encontros fraternos.
Com fé em dias melhores e a crença de que, de mãos dadas, fica mais fácil encarar os duros revezes do inesperado, pode haver também esperança. As hostilidades devem ficar no passado, como “uma roupa que não nos serve mais”, para lembrar as palavras do compositor Belchior. Que um dia, não muito longe deste 2024, datas como o Dia Internacional da Mulher sejam de entendimento, e não apenas de votos de parabéns. Ou frágil aperto de mãos