Quatro anos depois de a Organização Mundial da Saúde declarar uma pandemia global de COVID-19, o governo federal estabeleceu um marco no Brasil para a doença que matou 710 mil no país. A ministra Nísia Trindade anunciou a criação de um memorial para as vítimas da doença. O local escolhido é o Centro Cultural do ministério, localizado no Rio de Janeiro.
Como acontece com iniciativas semelhantes, o memorial tem por finalidade servir de reflexão permanente sobre a doença que devastou o país entre 2020 e 2022 e ainda constitui um relevante problema grave no Sistema Único de Saúde, bem como na rede privada de atendimento. “Não circunscrevemos a pandemia de COVID-19 ao passado. Como todas as reflexões sobre memória, sabemos do componente presente, político, das ações de memória. E, ao mesmo tempo, lembramos que, a despeito de termos superado a emergência sanitária, nós não superamos a COVID-19 como problema de saúde pública”, afirmou Nísia Trindade.
Em números absolutos, o morticínio provocado pela COVID-19 no Brasil encontra paralelo com os Estados Unidos, onde a pandemia causou mais de 1 milhão de óbitos, e na Índia, país que acumula mais de 530 mil mortes. Dirão os negacionistas da pandemia que, considerando os dados proporcionais, o Brasil está em situação menos dramática do que em nações como Peru, que contabiliza uma média 6 mil óbitos por milhão de habitantes. Nesse critério, o Brasil ocupa a 18ª posição, com aproximadamente 3,2 mil mortes por milhão de habitantes.
Independentemente das variações estatísticas, é consenso entre autoridades sanitárias que a COVID-19 provocou um flagelo no país. O avanço devastador da pandemia extenuou o Sistema Único de Saúde – que, de resto, mostrou-se fundamental no enfrentamento da doença –; revelou a vulnerabilidade do Brasil no desenvolvimento de vacinas; escancarou o negacionismo em parcelas da sociedade brasileira, muitas vezes estimulado por agentes do poder público; gerou profundo impacto em diversos setores da economia, muitos dos quais ainda em fase de recuperação. Isso sem mencionar os traumas na sociedade, com milhões de famílias e empresas tentando se reerguer após a partida repentina de pais, mães, avôs, avós, tios, trabalhadores, pesquisadores, cidadãos.
É precisamente por causa do propósito de lembrar o país dos danos, muitas vezes irreversíveis, causados pela COVID-19 que o memorial anunciado pelo Ministério da Saúde tem sua relevância. Passados quatro anos da eclosão do novo coronavírus, o Brasil ainda enfrenta séria batalha contra a doença. Em 2024, a COVID-19 tem registrado uma média de 200 mortes a cada semana epidemiológica. É como se caísse um avião toda semana no Brasil. A dengue, apesar de se encontrar em crescente estágio de emergência em diversos estados e no Distrito Federal, registra oficialmente 363 mortes, e outras 763 em investigação.
Em ambas as graves moléstias, apesar das especificidades, o desafio é um só: investir em prevenção, tratamento e, não menos importante, no fomento à pesquisa. Dada a magnitude que essas patologias adquiriram no país continental e de profundas desigualdades, é fundamental uma ação permanente e coordenada, que envolva os três entes federativos, para evitar a ocorrência de novas tragédias. É dever do Estado combater COVID-19 e dengue de maneira incansável; é dever de todo brasileiro contribuir com essa causa. Esse é o sentido mais profundo de iniciativas como o memorial anunciado ontem.