Anderson Ozawa
É CEO da AOzawa Consultoria, especialista em governança Operacional e Corporativa
Segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), publicado na quarta-feira (27/03) durante evento do Dia Internacional do Resíduo Zero, comemorado no dia 30 de março, os domicílios ao redor do mundo desperdiçaram mais de 1 bilhão de refeições por dia em 2022. É um número incrível e alarmante.
Esse número de resíduos alimentares (incluindo partes não comestíveis) totaliza um número de 132 kg per capita e se aproxima de quase um quinto dos alimentos totais disponíveis aos consumidores. Cerca de 783 milhões de pessoas foram impactadas pela fome e um terço da humanidade enfrentou a chamada insegurança alimentar.
Esse desperdício desenfreado dos alimentos ao redor do planeta tem impactos na economia global, nas mudanças climáticas, perdas irreparáveis na biodiversidade e, claro, a poluição do planeta.
E quer saber onde acontecem esses desperdícios? Segundo o relatório, 60% ocorreram no âmbito doméstico, outros 28% nos serviços de alimentação, e o varejo foi responsável por uma parcela de 12% em 2022. No Brasil, a quantidade média anual de perda e desperdício de alimentos é desconhecida, mas, de acordo com estimativas, ela pode variar de 23 a 82 milhões de toneladas.
Porém, o relatório conta com um estudo piloto realizado no Brasil, em 2023, em cinco regiões da cidade do Rio de Janeiro. Com base neste levantamento, estima-se que o Índice de Desperdício de Alimentos no país possa chegar a cerca de 94 kg per capita/ano, na etapa de consumo familiar, levando em consideração análises de resíduos orgânicos, com o uso de gravimetria, em regiões do Rio com diferentes perfis socioeconômicos.
A partir disso, temos uma reflexão importante: a prevenção de perdas e desperdícios começa em uma conscientização individual, em cada pessoa. São essas mesmas pessoas que fazem parte das empresas que também têm parcela significativa nesse número, o que nos leva ao ponto fundamental das discussões de prevenção de perdas: a cultura e a consciência.
A inteligência de prevenção de perdas, como tenho enfatizado ultimamente, é uma filosofia, algo que tem impacto direto nas camadas sociológicas e antropológicas da sociedade. As empresas têm um papel importantíssimo de adotar definitivamente programas de prevenção de perdas e gestão de recursos e desperdícios para que, não só no tema alimentos, mas, em todos os demais insumos das cadeias de abastecimento, ocorra uma gestão consciente e responsável, que gera impactos positivos (ou negativos) no ambiente, na sociedade e na economia.
Então, ao falar de ESG, onde está o item prevenção de perdas e gestão de recursos e desperdícios, é preciso abordá-la de forma a ser uma estratégia concreta e que pode transformar perdas em lucros e muito mais, em uma sociedade mais justa e um ecossistema saudável e sustentável.