Se pensarmos que um dos principais distúrbios do sono – além da insônia, claro – pode causar infarto do miocárdio, derrame cerebral, obesidade, hipertensão, arritmia cardíaca, depressão ou até mesmo acidentes domésticos e de trânsito, no caso de adultos e idosos, é fundamental que um especialista no assunto seja acionado, o que raramente ocorre na vida do brasileiro.


Hoje, no Dia Mundial do Sono, vejamos algumas informações. O período ideal de um sono de qualidade por noite varia entre sete e oito horas, levando em consideração as diferenças de cada indivíduo em termos de idade, estilo de vida e atividades diárias. Bebês e adolescentes (a maior parte) são considerados “dormidores longos”, ou seja, precisam de mais tempo para se sentirem ativos para o dia seguinte – nove, 10 e 11 horas de sono. Já os curtos geralmente são idosos, mas também há adultos, crianças e outras pessoas que não necessariamente precisam de muitas horas na cama todos os dias.


O distúrbio citado acima é a apneia obstrutiva do sono (AOS), aquela “parada” no processo de respiração em repouso. Ela pode chegar a 15 segundos de interrupção e pode ocorrer inúmeras vezes, gerando uma série de prejuízos à saúde, dos quais os mais sérios estão no início do texto, mas há ainda outros efeitos, como irritabilidade, ronco (o sintoma mais “audível”), dores de cabeça ao acordar, engasgo, sonolência durante o dia, dores de cabeça matinais, agitação e boca seca.


A questão é que esse esforço para recuperar a respiração e, consequentemente, os batimentos cardíacos e a pressão arterial, sobrecarrega o coração. Já imaginou isso a longo prazo? É preciso lembrar que as crianças também podem ter apneia. E aí os prejuízos são: maior chance de apresentar déficit de atenção, de dificuldade de aprendizado, hiperatividade, além da possibilidade de o distúrbio alterar a curva de crescimento.


Outra má notícia é que no Brasil as estimativas indicam que cerca de 70 milhões de pessoas apresentam problemas de sono, sendo que a maior parte delas sequer sabe que sofre disso e, mesmo sabendo, não procura tratamento adequado.


Isso sem falar no trabalhador que fica horas no transporte público ou mesmo em seu carro, parado no trânsito das grandes cidades. Gente que se desdobra em mais de um emprego para arcar com as despesas da rotina. Que vai do trabalho para os estudos. Aquela mulher, como a grande maioria das brasileiras, que tem uma jornada dupla ou tripla de trabalho, chega em casa cansada e ainda tem de cuidar dos filhos e de tarefas domésticas. Difícil ter tempo para dormir o suficiente para descansar e retomar a rotina no dia seguinte.


Os distúrbios do sono, e aí inclui-se a apneia obstrutiva, deveriam fazer parte do calendário nacional do Ministério da Saúde e obrigatoriamente serem considerados como problemas de saúde pública. Se passamos uma parte significativa do dia dormindo – pelo menos um terço – por que não investir em oferecer atendimento gratuito a esses pacientes, com centros e equipamentos específicos que analisem as horas maldormidas?


O assunto merece entrar na pauta de discussões e nos investimentos em saúde. Algumas iniciativas existem, como o direito do trabalhador apneico grave de receber auxílio-doença. Mas essa é a forma adequada de lidar com o doente? Não seria melhor não deixar a doença se instalar? Essa é só mais uma das patologias das quais o brasileiro sofre e não recebe a atenção merecida. 

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