Há muito se fala na emigração de médicos e estudantes de medicina brasileiros, rumo ao exterior, principalmente para os Estados Unidos, mercado atraente para os profissionais de saúde. Uma pesquisa recente, desenvolvida pela RD Medicine, escola que oferece cursos e mentoria para a internacionalização do médico brasileiro, mostra o perfil desse público.

A maior parte – foram ouvidas 2 mil pessoas – é de médicos formados, representando 80% do total, seguido por 20% de estudantes. A maioria dos profissionais é do sexo masculino (51,5%) e com faixa etária predominante entre 35 e 44 anos (40%) e entre 45 e 59 anos (20%), com destaque para profissionais da Região Sudeste, onde a concentração de médicos é maior que no restante do país.

Entre as áreas da medicina mais procuradas estão a de família ou medicina generalista (family medicine), no caso de formandos e formados, e a clínica médica (internal medicine), para o restante dos estudantes brasileiros, que têm direito a concorrer a bolsas de estudo para fazer residência médica, com remuneração entre US$ 3,5 mil e US$ 4 mil por mês, além de aumento progressivo anual.

Assim como temos assistido à debandada de pesquisadores e cientistas brasileiros para o exterior, a comunidade médica vai seguindo o caminho. O Brasil tem dificuldades em reter seus talentos, atraídos pela possibilidade de maiores ganhos. Muitos profissionais acreditam que lá fora poderão se dedicar a uma única instituição, diferentemente da realidade aqui no país, onde é comum o médico trabalhar em mais de um hospital e/ou clínica para obter a remuneração que deseja.

Outro fenômeno crescente na medicina refere-se ao perfil comportamental dos especialistas – seja em consultório, seja nas redes sociais. Muitos desses profissionais estão deixando hospitais ou outros prestadores de serviços para tornarem-se donos dos próprios negócios, buscando, assim, uma melhor situação financeira, conhecimentos mais aprofundados de cada área, além de outras experiências e benefícios – como bônus mediante produtividade e férias-prêmio. Se antes as pessoas eram pacientes, agora se transformaram em clientes, sob um olhar mais empreendedor, ou seguidores, sob um ângulo tecnológico.

Fatores como a oferta de salários atraentes (em dólar), de vagas em uma enormidade de instituições e jornadas de trabalho infinitamente menores têm contribuído, e muito, para a chamada “fuga dos jalecos”. Prova disso é que, de acordo com o Conselho Americano de Imigração, o setor de saúde lidera o ranking de participação de imigrantes na força de trabalho nos EUA – o correspondente a 15,6% do total, sendo grande parte formada por brasileiros.

Atualmente, o Brasil registra 575.930 médicos ativos. São cerca de 2,81 profissionais por mil habitantes, de acordo com levantamento divulgado na última segunda-feira pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Comparado com o início da década de 1990, quando eram 131.278 médicos em atuação, o número mais que quadruplicou. No mesmo período, a população brasileira passou de 144 milhões para 205 milhões, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A população médica teve crescimento médio de 5% ao ano, contra aumento médio de 1% ao ano na população em geral.

O índice de 2,8 médicos por mil habitantes deixa o Brasil em taxa semelhante à registrada no Canadá e supera países como os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do Sul. Não que não haja demanda internamente – ao contrário, há carência de mão-de-obra em vários pontos do país –, mas há espaço no exterior. Cabe às nossas autoridades investir na qualificação e no reconhecimento, a partir do ambiente acadêmico, para que possamos aumentar ainda mais a proporção de médicos a serviço dos brasileiros.