Aleluia Heringer Lisboa
Diretora de Ambiental, Social e Governança (ASG) do Colégio Santo Agostinho


Lidar com aquele que é e pensa diferente tem se revelado um atributo raro e de alta sofisticação social, quando deveria ser o mais básico dos saberes. Isso tem levado a uma mobilização de organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) – reimaginar nossos futuros juntos –, da Igreja – encíclica papal Fratelli Tutti –, fóruns diversos, psicólogos, educadores e defensores dos direitos humanos. Nunca se falou tanto sobre conviver.


Aquilo que eu sou – e que me torna única – é o diferencial e minha maior riqueza. São marcadores que compõem a minha história: onde eu nasci; de onde vim; quem foram meus pais e avós; a cor de minha pele; a textura dos meus cabelos; minha religião e tantas outras manifestações das diversidades – tanto da natureza quanto cultural. Assim, eu vou para o mundo e tenho o direito (não concessão ou favor) e a expectativa genuína de que haverá um lugar digno e respeitoso para mim. Vou, pois preciso existir e isso pressupõe a existência do outro, que tem, igualmente, os mesmos direitos e outra história para contar. Dito dessa forma, a equação parece simples e com um final feliz; só que não.


O problema começa quando não suporto a diferença e atuo para apagar ou inferiorizar o outro. Apago com a discriminação, com o preconceito, com o racismo, com o bullying e cyberbullying, com a difamação e a mentira. Tais comportamentos não conhecem a idade de quem os profere. Está presente na criança, jovem ou idoso, o que pressupõe mobilizar toda a sociedade e não apenas a escola.


Encontramos paralelos num mundo da natureza por meio da competição pela sobrevivência. Contudo, conseguimos, na dimensão cultural, transcender tais comportamentos viscerais. Todo bloqueio à expressão da diversidade é negativo ao aprimoramento da humanidade.


A violência não é um privilégio escolar. Que arrogância e prepotência é essa de pensar que o meu mundo é o modelo a ser escalado na sociedade? Não discutimos ideias, mas adjetivamos o outro, o que só denota nossa pobreza e superficialidade argumentativa. A imposição ou a humilhação – por meio da força, ódio ou ameaça – criam um círculo vicioso e destrutivo.


Em um pacto envolvendo a sociedade, a família e a escola, o ensino da convivência ética precisa ser imperativo. Portanto, este 7 de abril, Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola, vem para nos lembrar de que precisamos de mais políticas, conversas, sermões, aulas e reuniões para falar sobre tudo isso.


Podemos aprender a nomear e sermos educados para identificar, ver, ouvir e sentir a mais sutil manifestação da violência, seja ela simbólica, física ou psicológica. Por mais diferentes que sejamos, que no encontro com o outro haja espaço para a diversidade das existências e a disposição para acolher, iluminar, salgar, perfumar e restaurar. Essas são atitudes que precisam ser aprendidas.


Na educação básica, quando ainda falamos de sujeito em formação, as “inocentes” brincadeiras não podem ser naturalizadas. Os adultos precisam não somente intervir, mas também devem adotar uma postura de quem investiga e se põe em alerta. As violências nem sempre acontecem nas vistas do adulto, mas, se preparado, ele saberá ler os sinais.


Apostamos em um novo momento civilizatório que pressupõe uma antropologia em que todos temos a mesma dignidade e direitos. Com isso, ganhamos todos!

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