Até ontem, as chuvas torrenciais que atingem o Rio Grande do Sul, desde o último dia 29, deixaram 85 mortos e 134 desaparecidos. Em menos de um ano, essa é a segunda vez que o estado amarga perdas irreparáveis (vidas) sob os efeitos do aquecimento global, responsável por eventos climáticos extremos. Representantes do Executivo, dos Legislativo e do Judiciário uniram-se, em um esforço conjunto, em busca de soluções para sanar os danos causados pelos temporais que estão assolando o estado gaúcho.
No ano passado, um ciclone derrubou moradias, levou à morte dezenas de pessoas e causou graves danos materiais no estado. Segundo especialistas, desta vez, o El Niño, fenômeno natural, o terceiro mais forte registrado, entre 2023 e este ano, tem potencializado a elevação da temperatura, provocando os temporais Rio Grande do Sul e secas inéditas na Amazônia e no Pantanal Mato-grossense.
O climatologista Carlos Nobre, em entrevista a diversos veículos de comunicação, explica que o ciclone extratropical lança água mais quente dos oceanos dentro do continente, o que provoca temporais, como os que atingiram o Rio Grande do Sul em setembro do ano passado. “Agora é um pouco diferente. O fenômeno meteorológico é o bloqueio com baixa pressão e, no Centro-Oeste e Sudeste, a alta pressão com muito calor, que não forma nuvem nenhuma. O El Niño está ficando cada vez mais forte”, afirmou Nobre.
Apesar da intensidade dos temporais, cada vez mais danosa, provocando perdas de vidas em escalas elevadas, ainda há quem não reconheça que o fenômeno decorre do aquecimento global. Há um negacionismo inexplicável ante uma realidade concreta e dramática. O planeta vem advertindo as nações que as atividades humanas, industriais e empresariais, à medida que rejeitam o uso de energias limpas e insistem nos combustíveis fósseis, interferem na temperatura da Terra, por meio das alterações climáticas, expansão das áreas de deserto, secas intensas por períodos mais longos, derretimento de geleiras.
Emissões de gases de efeito estufa, incêndios nas florestas, desmatamento e outras intervenções perturbadoras do equilíbrio dos ecossistemas e biomas contribuem para o agravamento desses fenômenos do clima. Todos esses fatores derivam de atividades humanas. Apesar de todos os danos, governos, empresários e cidadãos comuns resistem às orientações dos especialistas – climatologistas, ambientalistas, físicos, biólogos, entre outros –, dedicados a encontrar meios de preservação da vida no planeta.
No cenário global, o Brasil tem relevante papel, pela sua diversidade de biomas, que guardam patrimônio ambiental invejável, diante de boa parte das nações. Mas há uma grande resistência dentro dos poderes executivos e legislativos federal, estadual e municipal em relação à necessidade de preservação dessa riqueza. As ações antrópicas nos biomas nacionais têm sido desastrosas, na Amazônia, no Centro-Oeste, no Sudeste, Nordeste e no Sul.
O Rio Grande do Sul, há alguns anos, flexibilizou o Código Ambiental, que alargou as brechas para intervenções comprometedoras do equilíbrio dos ecossistemas. Os danos desses desajustes são causas ou agravam os impactos dos fenômenos climáticos, na avaliação dos especialistas. A mesma advertência da natureza ocorre em outras regiões, por meio de episódios tão dolorosos à sociedade como vem ocorrendo com os gaúchos.
A enorme tragédia que ora se revela uma das maiores da história do Sul impõe uma revisão da relação entre a sociedade e o meio ambiente. É preciso que os poderes da República, bem como a sociedade, passem por reeducação e imponham limites rigorosos, para que haja uma reciprocidade entre a sociedade e o patrimônio natural. À medida que os brasileiros protegem suas riquezas ambientais, com base nas orientações dos especialistas, serão por elas protegidos.