Em 5 de maio do ano passado, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim da COVID-19 como emergência pública, encerrando a condição de pandemia que as nações enfrentavam. Mas a doença não foi extinta e, muito menos, os efeitos danosos provocados pela infecção nos meses em que o mundo ficou paralisado diante da avalanche de casos e mortes. No Brasil, o coronavírus derrubou a expectativa de vida, a frequência escolar e a renda do trabalhador.


Entre 2020 e 2021, a esperança de vida da população caiu de 76 para 74 anos. A presença nas salas de aula, de crianças e jovens entre 6 e 14 anos, passou de 99,27% para 98,84%. Já a renda per capita saiu de R$ 814 para R$ 723. Os dados estão no relatório divulgado terça-feira (28) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Essa realidade determinou o recuo do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) em pelo menos seis anos em 2021: 0,766, patamar próximo ao de 2015, quando ficou em 0,765.


As perdas humanas e materiais marcaram as famílias, as cidades, os estados brasileiros. Conforme consta no documento, o retrocesso “pode ser visualizado, de forma mais significativa, em um conjunto de estados das regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Sul”. Ao todo, entre 2019 e 2021, em seis estados o índice passou do nível alto para o médio: Pará, Bahia, Paraíba, Piauí, Roraima e Amapá. Quando analisados outros quatro, a queda foi da posição de muito alto para alto – Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.


A retomada social e econômica vem ocorrendo e apresentando sinais animadores, com o curso da sociedade voltando ao considerado normal. Porém, algumas situações se transformaram em desafios para as pessoas, as empresas e os governos. A regressão do IDHM escancara justamente os pontos sensíveis que necessitam de intervenções.


A crise sistêmica implantada pela COVID-19 atingiu dimensões do desenvolvimento de maneira abrupta, porém é preciso implementar medidas eficientes de recuperação. O reparo na área educacional, por exemplo, é urgente. Alunos de todas as etapas tiveram o aprendizado prejudicado, e um número preocupante abandonou os estudos. Resgatar essas crianças e jovens é uma tarefa que as prefeituras e os governos estaduais precisam cumprir com eficiência. A defasagem decorrente do fechamento das instituições de ensino durante a pandemia é outro fator que precisa ser combatido. Com planejamento dos programas das disciplinas, ampliação da carga horária e oferta de aulas de reforço, é possível avançar e superar o atraso.


No mercado de trabalho, as dificuldades são anteriores ao coronavírus, porém foram agravadas com o confinamento. A retomada dos negócios e das oportunidades ocorre gradativamente e indicadores mostram a retomada. O brasileiro tem conseguido se levantar do tombo, no entanto, diferenças continuam marcantes. As variações de rendimento das famílias entre as cidades e os estados são significativas, dificultando o crescimento do país. As políticas de incentivo e de amparo precisam mirar no combate à desigualdade social, um desafio complexo que exige união de esforços.


O Brasil só vai obter conquistas relevantes – que resolvam as dívidas criadas antes e durante a pandemia – se diversificar sua produção, levar em conta a transição ecológica, lidar com o envelhecimento da população e investir na preparação dos jovens, além de estabelecer ações públicas eficazes na educação, na saúde e na segurança. Os desajustes provocados pela pandemia foram grandes e visíveis. Agora, um ano após o fim da emergência sanitária, é fundamental propor soluções que promovam melhorias duradouras e que levantem o IDH. O país precisa recuperar a educação, garantir a qualidade e expectativa de vida, assegurar trabalho digno e bem remunerado. A pandemia passou, e os tempos difíceis no Brasil também precisam ser superados.