Milhares de brasileiros, instituições públicas e privadas, organizações da sociedade civil estão mobilizadas e unidas para ajudar a população do Rio Grande do Sul, vítima de um dos mais severos eventos climáticos extremos. Os representantes dos Três Poderes deixaram de lado suas divergências e, unidos, voltaram as atenções para a catástrofe enfrentada pelos gaúchos desde 29 de abril. Até ontem, 425 dos 497 municípios do estado foram afetados pelos torrenciais temporais. As enchentes levaram 100 pessoas à morte, 130 estão desaparecidas, 67 mil em abrigos e 163 mil desalojadas. No total, foram impactadas 1,4 milhão de indivíduos do Rio Grande do Sul. Em meio a maior tragédia climática enfrentada pelo estado, criado há 287 anos, a irresponsabilidade e a mentira campeiam nas redes sociais.


Inverdades imputam responsabilidades às mais diferentes autoridades — governos federal e estadual, Congresso Nacional e Judiciário, por um fenômeno da natureza. Elas são acusadas de negligência e indiferença ao dramático episódio que assola a vida de milhares de gaúchos. Os criadores e disseminadores de fake news, em total desprezo ao sofrimento às perdas materiais e à vida humana, que destroçam famílias, buscam acirrar divergências políticas. Tentam minar o comportamento das forças e os poderes do Estado, que deixaram de lado as diferenças ideológicas para convergir todas as suas energias e saberes na direção de contribuir com soluções em favor do Rio Grande do Sul.


A avalanche de fake news disseminada pelas redes sociais, eivadas de ódio, impôs a mobilização da Polícia Federal para identificar os responsáveis por tamanha covardia não só contra os Poderes republicanos, mas também contra a sociedade brasileira, consternada com o drama do povo do Rio Grande do Sul. Uma das mentiras denunciada pelo governador gaúcho, Eduardo Leite, foi a “exigência de nota fiscal para doações e uso do Pix oficial para finalidades além do auxílio às vítimas”. Na verdade, as doações em dinheiro são gerenciadas por um grupo de instituições, entre elas, organizações da sociedade civil.


Os abusos cometidos nas redes sociais tornaram imprescindível alcançar os autores e puni-los, como estabelece as leis. Mas não só isso. Torna-se necessário, ante o descalabro no uso das plataformas digitais, semelhante empenho do Congresso Nacional para regulamentar esse instrumento virtual. Postergar tal providência é tentar apagar o recente passado, quando as fake news reforçaram o negacionismo científico e induziram milhares de brasileiros e milhões de outros mundo afora a rejeitar as vacinas contra a COVID-19.


No Brasil, mais de 700 mil pessoas morreram pela COVID-19. E, hoje, o Ministério da Saúde e organizações nacionais e internacionais não medem esforços, por meio de campanhas, para imunizar crianças, jovens, mulheres e homens, evitando que sejam vítimas de doenças preveníveis. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, em recente declaração à imprensa, reconheceu como “fundamental” a regulamentação das plataformas digitais. Segundo ele, elas não podem ser um ambiente de “vale tudo”, em que a manipulação de informações as tornam meios de propagação do ódio e da violência e dos ataques às instituições.


A tragédia gaúcha mostra aos brasileiros e, possivelmente, ao mundo que o “país tropical, abençoado por Deus” carece de providências rigorosas tanto no campo da tecnologia, como na relação humana com o meio ambiente. No universo digital, vale destacar a luta da filipina Maria Ressa, Prêmio Nobel da Paz 2021, que defende a responsabilização das empresas globais de tecnologia pela dispersão de conteúdos falsos e desinformações, uma vez que se veem imunes às sanções penais. No que tange ao meio ambiente, o Brasil tem leis e regras que podem conter os grupos que insistem numa relação hostil com patrimônio natural do país — resta cumprir. 

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