Especialistas brasileiros alertam para a tendência de queda em outras coberturas, não somente no que se refere ao HPV, mas também de vacinas que já integram o calendário do Programa Nacional de Imunizações, como sarampo e poliomielite
Pouco mais de um mês após o início da vacinação, em dose única, contra o papiloma vírus humano (HPV), a cobertura vacinal ainda patina em grande parte dos estados brasileiros. A decisão do Ministério da Saúde em reduzir a aplicação de duas para uma única dose via Sistema Único de Saúde (SUS) para as crianças e adolescentes de 9 a 14 anos foi justamente uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que concluiu que uma dose da vacina já oferece uma proteção significativa contra o vírus.
O grupo prioritário também inclui pessoas com imunocomprometimento, vítimas de violência sexual e outras condições específicas, conforme disposição do Programa Nacional de Imunizações (PNI), podendo receber a vacina até os 45 anos. É importante lembrar que o HPV é associado a mais de 90% dos casos de câncer de colo do útero.
À época, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, chegou a convocar agentes de saúde dos estados e municípios para que fizessem uma busca ativa por adolescentes e jovens de até 19 anos que não haviam recebido nenhuma dose do imunizante para que pudessem atualizar a carteira de vacinas.
Fato é que os índices de cobertura seguem baixos, embora melhores que em anos anteriores. De acordo com os dados mais recentes, em 2023, foram aplicadas mais de 6,1 milhões de doses da vacina contra o HPV – o maior contingente de vacinados desde 2018. Neste ano, a cobertura vacinal chegou a 5,1 milhões de pessoas, o que corresponde a uma elevação de 42% em relação a 2022, quando foram aplicadas pouco mais de 4 milhões de doses.
O esquema de dose única é adotado em outros 37 países, seguindo recomendações de autoridades médicas internacionais. Já os especialistas brasileiros alertam para a tendência de queda em outras coberturas, não somente no que se refere ao HPV, mas também de imunizantes que já integram o calendário do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que combatem doenças como sarampo e poliomielite, sendo que a primeira deixou de ser considerada erradicada no Brasil em 2018, época em que foi registrado um surto da doença, com mais de 10 mil casos e 12 óbitos.
O esforço do Ministério da Saúde envolve o Movimento Nacional pela Vacinação, que inclui ainda as vacinas contra a COVID-19 e uma valorização maior dos serviços prestados pelo SUS. Vale lembrar que até abril deste ano apenas 22% do público-alvo havia se vacinado contra a gripe na rede pública, ou seja, 14,4 milhões de pessoas de um total de 75,8 milhões de doses reservadas para 2024. Os estados com as menores porcentagens da população vacinada contra o vírus influenza são: Distrito Federal (13,78%), Mato Grosso do Sul (14,18%), Mato Grosso (14,36%), Bahia (14,92%) e Rio de Janeiro (17,76%).
Iniciada oficialmente em 25 de março, a campanha se estende até o fim do primeiro semestre nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. No Norte, começa no segundo semestre, em decorrência de características climáticas da região. Agora é torcer para que a baixa cobertura do primeiro semestre (pelo menos por enquanto) não se repita no segundo.