Cristina Rocha Guimarães

Gerente de Desenvolvimento Institucional do BH-TEC e jornalista

Liberdade para investigar, revelar desafios da sociedade e fomentar soluções. As premissas do jornalismo dialogam com as do fazer ciência, tecnologia e inovação (CT&I) e, cada uma da sua maneira, buscam um objetivo comum: a democracia.

Mais que um regime político, a democracia no jornalismo e na CT&I tem como funções a proteção dos direitos humanos fundamentais – como as liberdades de expressão e do conhecimento técnico – e a garantia das oportunidades de escolhas e participação social em todos os aspectos da vida.

O Dia Nacional da Liberdade de Imprensa, celebrado ontem, surgiu no movimento contra a censura no Brasil durante o período do regime militar no ano de 1977. Hoje, jornalistas lutam para informar com qualidade e ter a percepção do cidadão em meio a um arsenal de notícias falsas. A ciência está no meio disso tudo, tentando ser novamente vista, entendida e acreditada.

Segundo o último relatório Digital News Report 2023 do Instituto Reuters para Estudos do Jornalismo da Universidade de Oxford, a confiança no jornalismo está em queda: em 2022, 43% não confiavam nas notícias postadas pela imprensa e, no ano passado, o percentual subiu para 48%. A mesma pesquisa também apontou que 41% dos brasileiros evitam o consumo de notícias e de conteúdo jornalístico. No mundo, esse índice, na média, é de 36%.

Recente estudo sobre a "Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil", divulgado no mês passado, o interesse em C&T teve pequena queda de 2019 para 2023. Mesmo assim, a maioria dos entrevistados (60%) está interessada ou muito interessada em "Ciência e Tecnologia".  

A visão positiva que a sociedade brasileira tem sobre este tema se mantém apesar da queda de 6,1% entre 2019 e 2023. No ano passado, 66% dos entrevistados achavam que C&T trazem só benefícios ou mais benefícios que malefícios para a sociedade. Ao mesmo tempo, o estudo apresenta que médicos, seguidos por jornalistas e cientistas têm o maior grau de confiança da população brasileira.

Como forma de melhorar a percepção da população sobre a ciência, especificamente, precisamos unir pesquisadores e jornalistas. Tirar cada um da sua bolha e colocar para pensar juntos formas e estratégias para entregar à sociedade a oportunidade de ela fazer suas escolhas com base em informações verídicas, pesquisadas e validadas.

Melhorar essa credibilidade em ambos os lados é um dos principais fatores que levou à criação do Laboratório de Inteligência em Divulgação Especializada (Lide) em CT&I. A rede –   formada pelo Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), Biominas, Fiocruz Minas, tecnoParq/UFV e UFMG – aposta na comunicação conjunta para promoção da divulgação científica no estado de Minas Gerais, por meio do trabalho em parceria com o uso compartilhado de inteligências, experiências e infraestruturas.

O diferencial da Rede Lide em CT&I é criar relacionamento entre a imprensa e pesquisadores, cientistas, professores e empreendedores e, assim, garantir mais visibilidade para a Ciência, Tecnologia e Inovação, o entendimento da população sobre estes temas e, com isso, fazer com que ela se aproprie do conhecimento.

Sem dúvidas, um desafio. Mas podemos vislumbrar resultados positivos: o Brasil subiu dez posições no ranking de liberdade de imprensa e chegou ao 82º lugar entre 180 países citados em levantamento da organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras. É a melhor colocação do Brasil nos últimos dez anos. Desde o último relatório divulgado pela entidade, o país recuperou, ao todo, 28 posições. Esta informação foi divulgada em 3 de maio, no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.

Autonomia, democracia e valorização das atividades de ciência, tecnologia e inovação exercem papel decisivo no desenvolvimento sustentável das nações. É um círculo virtuoso: quanto maior o investimento nestas premissas, maior será o controle social da imprensa, da ciência e, principalmente, da população. n