Garantir a qualidade do ensino público ainda é um dever que o Brasil precisa cumprir. Os desafios são diversos: assegurar o aprendizado efetivo, investir na infraestrutura, equipar as instituições, melhorar as condições de trabalho dos educadores, reduzir as desigualdades nas salas de aula e combater a evasão escolar são alguns deles. Em meio a essas questões históricas, um elemento atual acrescenta complexidade ao tema. A inteligência artificial (IA), que vem se popularizando rapidamente e transformando diversas áreas da sociedade, é hoje uma ferramenta presente na educação.


O debate sobre a aplicação da IA nos estudos, muitas vezes, tem girado em torno dos benefícios e dos riscos ao processo. O acesso a aplicativos que facilitam o desempenho dos alunos e auxiliam o planejamento dos professores é classificado como positivo. Por outro lado, são levantadas dúvidas sobre a ameaça ao trabalho dos docentes e o uso de ferramentas, como o ChatGPT, pelos estudantes.


Dados da pesquisa “Perfil e desafios dos professores da educação básica no Brasil”, divulgada pelo Instituto Semesp – que representa mantenedoras de nível superior – apontaram que três em cada quatro educadores aprovam a utilização da IA. Segundo a organização, as informações foram colhidas entre 18 e 31 de março de 2024, com 444 educadores das redes pública e privada, do infantil ao ensino médio, de todas as regiões brasileiras. Ainda segundo o levantamento, os entrevistados indicaram que a ferramenta deixa os alunos mais dispersos, o que para eles é um ponto negativo.


A educação, que é um agente das conquistas tecnológicas, precisa resolver os problemas que a IA apresenta – e os que podem surgir. Dificuldades básicas, como a ausência de internet de qualidade nas escolas, e complexas, como a formação dos professores, têm de ser superadas. Automação de tarefas, possibilidades de plágio e ameaça de queda na produção do aluno também pedem um olhar atento. A ampliação das plataformas adaptativas, que analisam o desempenho e criam conteúdo sob medida para um melhor rendimento, deve acontecer de forma que atinja toda a comunidade estudantil. E ainda que não se saiba a capacidade de alcance da IA, muitos especialistas defendem que a ferramenta não afetará o avanço acadêmico porque, apesar da capacidade de processar dados, ela não é capaz de escrever textos com novas ideias – pelo menos até agora.


Nesta terça-feira (11/6) está prevista uma sessão de debate, no Plenário do Senado, sobre a regulamentação da IA no país. O requerimento é do senador Eduardo Gomes (PL-TO), relator de projeto de lei sobre o uso da IA (PL 2.338/2023). O parlamentar disse esperar que o encontro contribua para envolver mais senadores na discussão sobre o PL 2.338/2023 – a votação deve ocorrer até o fim deste mês.


Ações em níveis globais vêm sendo desenvolvidas também. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou, ano passado, o “Guia para o uso da IA generativa na educação”, com o propósito de balizar os países nesse quesito e garantir que o uso não perca o ser humano como objetivo central.


Iniciativas nos campos da política e das organizações são fundamentais, mas a sociedade tem de se envolver na busca por caminhos para a utilização da IA com preceitos éticos e visão crítica. Diante das mudanças dentro das salas de aula, a presença da ferramenta no ensino precisa ser tratada sem dar espaço para negligências ou omissões. O Brasil precisa se debruçar sobre o tema sem perder mais tempo. A educação, essencial para a qualidade de vida, deve se apropriar da IA e criar meios para que estudantes, professores e todos os cidadãos se beneficiem com a ferramenta.