Há 10 anos, o Brasil se lançava no mercado de cannabis medicinal. Com um início meio nebuloso, o uso da planta era considerado, à época, como parte de um tratamento alternativo para aqueles pacientes que haviam tentado de tudo em termos de medicamentos ditos tradicionais.


A partir daí, seu uso tornou-se mais popular, mas ainda enfrenta um certo estranhamento, até mesmo da classe médica brasileira. Recentemente, uma pesquisa sobre o tema, feita pela organização Kanna, concluiu que mais de 82% do cultivo da cannabis no país é para fins medicinais, o que demonstra a adesão de parte da população aos novos medicamentos – no caso, o canabidiol e o tetrahidrocanabinol (principais formas da cannabis em sua apresentação clínica). Segundo a Associação Médica Brasileira (AMB), atualmente 430 mil brasileiros realizam terapia à base da cannabis medicinal no Brasil e a tendência é que esse número cresça nos próximos anos.


Por outro lado, um levantamento apresentado pelo Grupo Conaes Brasil, instituição especializada no ensino médico, mostrou a dificuldade, por parte dos profissionais, em prescrever receitas contendo a substância, o que, consequentemente, leva a uma subutilização do tratamento. Talvez por desconhecimento, já que não há, na grade curricular da maioria das faculdades de medicina, aulas específicas sobre a prescrição dos componentes da planta. Talvez pelo descrédito que a cannabis ainda suscita como alternativa terapêutica segura e eficaz, o que leva parte dos médicos a ficar insegura quanto à indicação. E talvez pelos altos preços dos medicamentos – um tubo custa entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil nas farmácias –, o que afasta o cidadão comum por questões financeiras.


Em dezembro, o governo de São Paulo publicou a regulamentação da lei que prevê o fornecimento de remédios à base de cannabis medicinal pelo Sistema Único de Saúde no estado. O fornecimento foi iniciado no mês passado. Entre as capitais, além de São Paulo, apenas os vereadores de Cuiabá (MT) iniciaram uma votação para aprovar um projeto de lei regulamentando o repasse aos pacientes do SUS.


A partir de pesquisas e estudos desenvolvidos pelas maiores universidades do mundo, em parceria com centros médicos internacionais, a cannabis medicinal tem se mostrado eficaz no tratamento de diversas enfermidades, a exemplo de dores crônicas, como neuropatia e fibromialgia, na epilepsia refratária, na esclerose múltipla e em determinadas condições como mal-estar decorrente de quimioterapia e outras tantas doenças genéticas raras.


Na próxima terça-feira (25), 200 autoridades médicas e não médicas se reunirão em São Paulo para a quarta edição do “We Need to Talk About Cannabis (WNTC)”, congresso que ganhou vida na FCE Pharma, feira da indústria farmacêutica. O secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde, Carlos Gadelha, participará do evento, além de professores da Unifesp e de representantes da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi) e do Conselho Federal de Química. Aguardemos os próximos capítulos.