Um tema muito complexo está sendo amplamente debatido nesta semana, em São Paulo: a obesidade. Congresso internacional reúne, até amanhã, autoridades e especialistas, entre os quais endocrinologistas, clínicos, oncologistas, angiologistas, enfim, toda a comunidade médica em torno do assunto.
Os dados continuam alarmantes: quase metade dos adultos brasileiros viverão com obesidade em 20 anos; três quartos dos adultos brasileiros terão obesidade ou sobrepeso em 2044; obesidade em meninos e meninas de todas as idades no Brasil deve aumentar significativamente nos próximos 20 anos; e taxas de obesidade, obesidade severa e sobrepeso estão varrendo todas as áreas do Brasil e atingirão níveis recordes até 2030. As projeções vêm de estudo liderado pelo especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental Eduardo Augusto Fernandes Nilson, que é pesquisador e docente no Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Brasília.
Pois bem. E o que estamos fazendo para tentar mudar esse quadro? Comendo mais. De acordo com o levantamento, mantidas as tendências atuais, 130 milhões de adultos brasileiros viverão com sobrepeso ou obesidade (75%), sendo 83 milhões com obesidade e 47 milhões com sobrepeso. Hoje, esse contingente já está em 56%.
Nos “papers” dos estudiosos, eles destacam a alavancada rumo à obesidade no Brasil entre 2006 e 2019. A população obesa praticamente dobrou, chegando a 20,3% dos adultos. Em 2030, a previsão é de que ultrapassemos os 68%, sendo 29,6% para obesidade e 38,5% para sobrepeso. Os especialistas chegam a considerar o problema como uma epidemia de obesidade, com destaque para as mulheres, os negros e outras etnias minoritárias. Sem contar nos gastos com comorbidades decorrentes dos problemas primários.
Nesse levantamento, foi montada uma tabela da vida mostrando os impactos do sobrepeso e da obesidade sobre 11 doenças associadas ao índice de massa corporal (IMC) elevado. E a lista é grande: doenças cardiovasculares, doença renal crônica, cânceres, diabetes, além de outras condições atreladas ao envelhecimento da população. A estimativa é de que 10,9 milhões de novos casos de doenças crônicas associadas ao sobrepeso e obesidade se desenvolvam nos próximos 20 anos, das quais 1,2 milhão sejam mortes atribuíveis ao sobrepeso e à obesidade durante esse período.
Mais falta de sorte para os homens, já que mesmo que haja um equilíbrio em termos de novos casos entre pessoas do sexo masculino e feminino, há que se destacar que eles geralmente morrem prematuramente, se comparados às mulheres. E, no ranking das comorbidades, a diabetes lidera, com 51% dos novos casos e as doenças cardiovasculares, com 57% em termos de mortes até 2044.
Enquanto não houver um planejamento de políticas públicas específicas que possam oferecer tratamentos assertivos para a população que já se encontra com sobrepeso ou obesa, além de esquemas de prevenção capazes de conter essa avalanche e aí, sim, incluindo todas as faixas etárias (sem exceção), vamos cada vez mais nos afastar dos objetivos de termos uma população majoritariamente saudável. A esperança existe, mas o tempo está ficando cada vez mais curto.