Gustavo Garcia Vieira de Almeida

Diretor de Gestão e Novos Negócios na Invest Minas

 

Miller Gazolla Corrêa de Sá , Especialista em transição energética

Arquivo pessoal

Miller Gazolla Corrêa de Sá

Especialista em transição energética

Aprovado na Câmara Federal e em tramitação no Senado, o projeto de lei conhecido como “combustíveis do futuro” não deve demorar a se tornar realidade no Brasil. Ele trata da diminuição dos combustíveis com alto índice de emissão de gases que contribuem com o aquecimento global para a entrada em cena de outros, ecologicamente sustentáveis.


Em meio a este cenário, Minas Gerais larga na frente, já que tem amplas possibilidades de expansão nas produções de hidrogênio verde, biogás, etanol e projetos em outros biocombustíveis, como óleos vegetais avançados a partir da macaúba e no Combustível Sustentável da Aviação (SAF). Além disso, Minas tem consolidada uma grande produção de energia elétrica renovável, sendo o maior estado produtor de energia solar do Brasil, de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O estado ainda é responsável pela geração de um terço do total da energia solar fotovoltaica centralizada e tem grande potencial para expansão relacionada a mobilidade elétrica.


No segmento de gases renováveis, a imensa oferta de biomassa proveniente da indústria florestal, sucroalcooleira e demais segmentos do agronegócio faz de Minas Gerais uma potência para geração de hidrocarbonetos, biogás, biometano, hidrogênio de baixo carbono e demais elementos gasosos sintéticos que poderão descarbonizar setores tradicionalmente emissores, como siderurgia, cimentos, fertilizantes, petroquímico e transporte de carga, por exemplo.


A privilegiada abundância de biomassa, energia renovável e infraestrutura de geração e transmissão podem tornar o estado de Minas Gerais uma referência global na produção de hidrogênio verde, de baixo carbono e de combustíveis sintéticos, como SAF de aviação, por exemplo.


O caminho para isso já está sendo traçado. Em 2023, a empresa alemã Neuman & Esser anunciou investimentos na construção de uma fábrica de equipamentos geradores do produto. Outra iniciativa pioneira no estado é o Centro de Hidrogênio Verde da Universidade Federal de Itajubá, que desenvolverá pesquisas para apoiar a expansão deste mercado e contará com um projeto-piloto equipado com eletrolisadores fornecidos pela Neuman & Esser.


O estado também abriga o maior número de empresas voltadas ao biogás do Brasil: 274. Elas somaram o terceiro maior volume de produção do país em 2022, um crescimento de 50% em relação ao ano anterior. A empresa italiana Asja está investindo R$ 200 milhões no município de Sabará para transformar resíduos urbanos em biometanopurificação do biogás que pode substituir o gás natural de origem fóssil sem necessidade de alterações nos equipamentos que queimam o combustível.


Minas Gerais é um dos maiores produtores de etanol e abriga o segundo maior mercado de etanol hidratado do país. No estado, desde 2023, investimentos da ordem de R$ 11,3 bilhões também têm sido realizados na cadeia sucroenergética, contemplando desde o cultivo da cana-de-açúcar até a produção do etanol, e o desenvolvimento de novas tecnologias relacionadas a ele, mobilidade elétrica e produção de hidrogênio verde pela reforma do etanol.


Tão importantes quanto os projetos em etanol, são aqueles em biocombustíveis. A S.Oleum pretende restaurar 175 mil hectares para produzir óleos vegetais avançados a partir da macaúba e de outras árvores nativas. Já a Acelen, criada pelo fundo Mubadala Capital, investirá R$ 125 milhões na instalação de um Centro de Inovação e Tecnologia também para a produção agroindustrial de dois produtos a partir do óleo do coco de macaúba: o biodiesel renovável, ou diesel verde e o Combustível Sustentável da Aviação (SAF).


A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) também está investindo em estudos e inovação por meio da linha de fomento Compete Minas, com foco estratégico nas cadeias de biocombustíveis, hidrogênio e energias renováveis. Esses investimentos permitem a criação e o desenvolvimento de tecnologias que tornem viáveis o uso de biocombustíveis de maneira massificada.


Em relação à mobilidade elétrica, Minas Gerais possui grandes ativos para colaborar com a transição energética. Dos minerais estratégicos presentes no estado, destaca-se como o maior produtor mundial de nióbio, além de possuir grandes depósitos minerais em terras raras e produzir silício metálico e lítio, essenciais para as tecnologias sustentáveis. A onda de investimentos em regiões como o Vale do Jequitinhonha (apelidado de Vale do Lítio) e Poços de Caldas consolida Minas como um centro de desenvolvimento da mobilidade elétrica. Empresas australianas como a Latin Resources e a Viridis exemplificam casos recentes de empreendimentos que enxergaram essa oportunidade.


No setor de eletricidade renovável, Minas Gerais também se destaca. Do total de energia elétrica produzida no estado, 96% são relacionados a fontes hídricas, solar, biomassa e eólica, de acordo com a Aneel. Além disso, Minas é responsável pela geração de um terço do total da energia solar fotovoltaica centralizada.


Os incentivos criados pelo estado por meio do programa Sol de Minas, além dos incentivos às demais fontes de geração de energia renovável têm sido fundamentais. Até o momento, a Invest Minas facilitou 44 projetos de energia solar ou híbrida, com investimentos totalizando R$ 75 bilhões. Atualmente, o estado produz quase 8 GW em geração centralizada e distribuída, uma expansão de mais de 1.200% durante o período. Cada GW é capaz de abastecer uma cidade de 500 mil residências, o que significa que Minas já produz energia solar suficiente para abastecer o equivalente a mais de 3,7 milhões de casas.


Por meio de políticas assertivas e de investimentos estratégicos, o estado se destaca no cenário brasileiro e internacional, catalisando mudanças para uma economia mais verde e sustentável. Prova disso é que Minas foi o primeiro estado na América Latina a assinar o compromisso "Race to Zero", da Organização das Nações Unidades (ONU), que tem como objetivo neutralizar a emissão de carbono até 2050. Com tantos potenciais, Minas Gerais sustenta o compromisso com a sustentabilidade e a inovação, atuando como um laboratório de soluções para a transição energética.

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