O governo agiu rápido e de forma acertada ao anular o leilão de importação de arroz e aceitar a demissão do secretário de Política Agrícola, Neri Geller, envolvido no pregão realizado em 6 de junho e cujas empresas vencedoras levantaram suspeitas desde o início. Entre as que venceram o certame há até mesmo uma empresa de locação de veículos e máquinas de Brasília (DF), uma loja de queijo de Macapá (AP) e uma fábrica de polpa de frutas de São Paulo. Todas alegam comercializar alimentos, mas, diante da estranheza, o melhor a fazer é cancelar o pregão, que não contou com nenhuma das grandes comercializadoras de alimentos.


A ausência delas parece ser uma reação ao questionamento dos arrozeiros do Sul do país, sobre a necessidade de se importar arroz por causa das enchentes no Rio Grande do Sul. Os produtores garantem que a safra já estava colhida e que não há risco de desabastecimento. Ainda assim, o governo decidiu optar pela compra do produto no mercado internacional, segundo o Planalto, para evitar a especulação com os preços do cereal presente na mesa de praticamente todas as famílias brasileiras.


A decisão do governo, tomada no calor da necessidade de se adotar medidas para amenizar os prejuízos da catástrofe ambiental no Rio Grande do Sul, começou errada e por pouco não se tornou mais um escândalo de favorecimento e corrupção no Planalto. Errada porque, antes de anunciar a importação, o governo deveria ter se reunido com os produtores, para garantir o escoamento da produção que eventualmente estivesse retida no Sul e buscar, juntamente com eles, formas de abastecer o mercado sem elevação dos preços ou limitação de compra pelos consumidores.


Errada também porque parece ter atendido muito mais ao interesse político do governo do que propriamente da atividade agrícola nacional. Tabelar preços e colocar o rótulo do governo em produtos são medidas populistas e que em nada contribuem para a estabilização e normalização do mercado. Nesse caso, o efeito é o contrário e o governo, em lugar de ganhar pontos de popularidade, acabou com um grande problema para resolver. Apesar de o leilão ter sido anulado e o principal envolvido na operação ser demitido, a oposição pode pressionar por uma investigação no Congresso.


Uma eventual negociação com produtores, obviamente, teria que envolver preços, para que os consumidores de todo o país não arquem com um problema que ocorreu no Sul. Se eventualmente os preços subirem acima de um patamar razoável e pressionando a inflação, o governo deve sim buscar mecanismos para conter a alta, o que inclui a importação de arroz para atender a demanda e evitar que uma redução na oferta interna provoque encarecimento dos produtos.


O governo já anunciou a intenção de usar o plano safra como forma de estimular a produção de alimentos básicos, como arroz, feijão, mandioca e trigo para formação de estoques públicos. Dessa forma, terá como construir um mecanismo que pode ser usado para conter altas expressivas desses produtos. A decisão de anular o leilão foi acertada, mas não impede que o governo busque produtos no mercado internacional para abastecer o mercado interno. No entanto, é imprescindível que a compra seja feita com mais rigor e critério. 

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