O Brasil se tornou um grande arraial. Pelo menos até o fim do mês, o país celebra as festividades juninas, tradição que remonta aos tempos coloniais, herança das festividades religiosas em agradecimento pela colheita no verão do Hemisfério Norte. Como ocorreu com diversas manifestações culturais no solo brasileiro, o ritual europeu ganhou novas cores e agregou outras influências decorrentes do convívio entre brancos, negros e indígenas.


Em 2024, as festas juninas se consolidam como propulsoras da cultura nacional, resgatando costumes centenários no país. O encanto junino está na culinária, na dança, na música, na oração, nas brincadeiras, no folclore. Talvez somente o carnaval possa se equiparar à temporada junina em termos de abrangência e diversidade – e eis aí mais uma maravilhosa dualidade brasileira, a convivência entre uma celebração de origem pagã e outra que remonta à história do cristianismo.


Para além da genealogia popular brasileira, o período junino se destaca pelo seu valor econômico. Segundo estimativas do governo federal, em 2023, a temporada dos arraiais movimentou R$ 6 bilhões, um aumento de 70% em relação ao ano anterior. As comemorações em homenagem aos três santos populares – Antônio, Pedro e João – atraíram mais de 25 milhões de pessoas, entre turistas nacionais e estrangeiros. A expectativa do Ministério do Turismo é superar essas marcas em 2024.


E o ritmo está intenso. Este ano, cidades como Recife, Fortaleza, São Luís, Salvador, Mossoró, Petrolina e as famosíssimas Caruaru e Campina Grande já comemoram uma alta procura de passagens aéreas e de ocupação da rede hoteleira. É notável, ainda, a geração de emprego nessas diferentes praças, possibilitando uma renda extra para trabalhadores da Região Nordeste, historicamente mais castigada pela desigualdade no desenvolvimento econômico nacional.


O calendário junino contribui significativamente para fortalecer o turismo, atividade econômica que vem acumulando números positivos nos últimos meses. Segundo dados divulgados pela Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), o primeiro trimestre do ano registrou a entrada de 2,5 milhões de turistas estrangeiros no país – a segunda melhor marca medida até aqui e alta de 9,8% em relação ao ano passado.


A animação não para por aí. Em uma prova da riqueza cultural verde-amarela, milhares de brasileiros se preparam para o Festival Folclórico de Parintins, a ser realizado no último fim de semana de junho. Trata-se de outra manifestação cultural de peso, considerada Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).


Em um país marcado por tantas carências, a riqueza cultural expressa pelas festas populares comprova a força, a criatividade e a diversidade da nossa identidade nacional. As festas juninas mostram algumas das melhores qualidades do Brasil – a irreverência, a alegria, a cultura popular, a reunião de raças e credos – em uma celebração que encanta cada vez mais pessoas e representa um ganho econômico e social. Anarriê! 

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