O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou ontem preocupação com a escalada do dólar frente ao real. Mas, mais do que preocupação, sinalizou que pedirá uma reunião de governo para adotar medidas para conter o que classifica de ataque especulativo contra o real. De fato, a moeda brasileira tem se desvalorizado muito em função de movimentos especulativos dos investidores, mas também pelas altas taxas de juros nos Estados Unidos e pelas incertezas em relação à economia norte-americana e pelos embates do presidente com o Banco Central. Lula sozinho não tem capacidade para alterar o câmbio, mas o que ele diz é tudo o que os especuladores querem para justificar a escalada do dólar.
O presidente tem todo direito de expressar suas opiniões e diretrizes do seu governo, mas seria desejável que considerasse a conveniência de suas declarações, muitas vezes orientadas para a política e para marcar posição para seus candidatos nas eleições municipais. O presidente Lula trata questões econômicas como se estivesse em um palanque e o adversário fosse o presidente do Banco Central ou os investidores. É uma atitude que pode até fazer sentido para ele, mas que é extremamente danosa para a economia brasileira. Não há nenhum fundamento que justifique o valor do dólar, que ontem fechou cotado a R$ 5,66, acumulando valorização de 1,37% no mês e de 16,75% no ano.
Hoje, a cotação do moeda norte-americana está fora da realidade, considerando-se a conjuntura econômica do país, mas não há um limite para que se valorize frente ao real e o que se espera é que, como bem disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se elimine os ruídos de comunicação gerados pelo próprio governo, que, segundo ele, comunica mal os seus feitos na área econômica. Em relação ao limite para a alta do dólar, é preciso lembrar que, em setembro de 2022, nas vésperas da primeira eleição vitoriosa de Lula, a moeda atingiu valor recorde, corrigido pela inflação, de R$ 8,76. Hoje, o dólar, que começou o ano abaixo de R$ 5, está na maior cotação desde janeiro de 2022.
É preciso entender que esse cenário de incertezas nos Estados Unidos pressiona as moedas de todo o mundo, não apenas no Brasil. Moedas da Colômbia, Argentina, Chile e México estão pressionadas e perdendo valor frente ao dólar, mas num patamar não tão intenso quanto no Brasil. Com as taxas de juros elevadas nos EUA e as taxas de longo prazo, que não são controladas pelo Banco Central, subindo sistematicamente, dólares de todas as partes do mundo migram para a América e os mercados onde há menos divisa norte-americana sofrem desvalorização das suas moedas. Ocorre praticamente em todas as economias periféricas, num processo que se torna mais intenso no Brasil com o presidente municiando os especuladores.
Nesse contexto, a primeira medida efetiva para conter o ataque especulativo é cessar as falas que alimentam e servem de justificativa para os especuladores. O resultado desse movimento será exatamente a elevação das taxas de juros para evitar de um lado que o dólar caro e a demanda aquecida elevem a inflação, num cenário que há seis meses seria improvável, e de outro conter a própria cotação da moeda dos Estados Unidos. O dólar elevado encarece todos os produtos importados, como diesel e trigo, para citar apenas dois, cujos aumentos vão parar diretamente no bolso do brasileiro. O presidente Lula tem que ser alertado de que o efeito das suas falas pode ser exatamente o contrário do que ele diz almejar.