Um estudo inédito divulgado, ontem, pela WWF-Brasil revela que a seca que assola o Pantanal poderá ser mais severa do que as ocorridas no início dos anos 1970 (40 anos atrás). Essa tendência vem sendo registrada desde o início do monitoramento do Rio Paraguai, que tem apresentado diminuição das cotas mínimas e máximas tanto no período de estiagem quanto de enchente. A conclusão resulta de um mapeamento mensal com base em imagens em alta resolução coletadas pelo satélite Planet, com financiamento da WWF-Japão. O ecossistema mato-grossense está prestes a alcançar o ponto de não retorno, “cada vez mais seco – o que sinaliza o aumento das ameaças à sua biodiversidade, aos seus recursos naturais e ao modo de vida da população pantaneira”, sintetiza o documento "Alerta precoce para mitigar impactos da seca no Pantanal".


O alerta não é sobre um bioma qualquer. O Pantanal está entre as maiores áreas úmidas do planeta, localizado no centro da América do Sul, entre os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com 138.183 km². Foi reconhecido como Patrimônio Nacional pela Constituição de 1988 e inscrito como Patrimônio Natural da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 2000.


Entre as intervenções nocivas, está o uso descontrolado do fogo para limpeza de áreas destinadas à agricultura. Desde o início do mês passado, o Pantanal está em chamas. O fogo consumiu mais de 300 mil hectares. A perda de cobertura vegetal tende a bater recorde neste ano. A ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e da Mudança Climática, declarou que foram identificados cerca de 18 focos de incêndio em propriedades privadas. A Polícia Federal foi chamada a investigar os autores. “A história de que pode ser raio, descarga de raio, não é (verdadeira). É por ação humana", disse a ministra.


Mantidas as atividades predatórias do ecossistema, com desmatamento nas cabeceiras dos rios das bacias hidrográficas e queimadas, entre outras intervenções humanas hostis à natureza, os impactos não ficam circunscritos ao Pantanal. A população pantaneira será uma das mais afetadas com a perda da biodiversidade e pelo comprometimento da economia local, nutrida pela agropecuária, extrativismo e pelo turismo. Na sequência, tanto Mato Grosso quanto Mato Grosso do Sul sentirão os efeitos. O estudo da WWF-Brasil sugere algumas medidas para a preservação do Pantanal, que abriga mais de 3 milhões de brasileiros e tem importância inquestionável pela interseção com os demais biomas do país.


A WWF recomenda que haja ações de adaptação às mudanças climáticas, mapeamento das causas que afetam os corpos hídricos, sensibilizar a população sobre a importância de preservar as cabeceiras do Pantanal, conter o desmatamento, restaurar as áreas degradadas e incentivar a adoção de práticas produtivas sustentáveis.


Conter os danos ambientais não é ação exclusiva do poder público. A preservação do patrimônio natural passa também pelo comportamento dos cidadãos. Agredir o meio ambiente, ser indiferente aos benefícios que a natureza oferece à sociedade, não é só ato criminoso, mas uma expressão de indiferença e desprezo ao que todos os humanos têm de mais caro: a vida.