Um momento que deveria ser natural, pelo menos na grande maioria, tem sido antecipado, com sérios riscos à vida. Recente levantamento realizado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), divulgado no periódico Health Economics, mostra que as brasileiras estão dando à luz antes da hora sem a devida recomendação. O estudo apontou que, para a “comodidade” de médicos e famílias, a antecipação dos partos cesáreos, especialmente em datas anteriores a feriados, tem sido uma constante.
Se por um lado o adiamento de partos gera um acréscimo na idade gestacional e consequente redução na mortalidade neonatal, a antecipação pode reduzir o peso dos bebês ao nascerem, principalmente daqueles de alto risco. Segundo a coordenadora da pediatria do Grupo Conaes Brasil, Marcelle Bonomo, antecipar partos sem indicação médica pode provocar problemas respiratórios crônicos nos bebês, além de uma série de complicações, como distúrbios de crescimento, deficiências oculares e auditivas.
De acordo com os autores da pesquisa, Carolina Melo e Naercio Menezes Filho, a tendência é de que esta medida de encurtar propositalmente o período de gestação seja tomada por famílias com nível educacional mais alto, isto é, teoricamente são pessoas que deveriam saber que, agindo dessa forma, podem colocar em risco a vida de seus bebês.
O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de países com as maiores taxas de partos cirúrgicos – 55% do total de procedimentos no país –, perdendo apenas para a República Dominicana (58%), segundo dados do Ministério da Saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS), inclusive, preconiza que a proporção de partos cesarianos seja inferior a 15%, o que mostra a discrepância entre o recomendável e o que ocorre na prática.
A espera por partos vaginais – aqueles em que a gestante entra em trabalho de parto – se mostra a decisão mais acertada em termos de maturidade gestacional e sobrevivência de mãe e filho (a).
Os especialistas reforçam ainda que a prematuridade, neste caso, pode contribuir para o surgimento de quadros como icterícia por fígado imaturo, formação incompleta dos pulmões, dificuldade na amamentação, no ganho de peso, maior risco de infecções, podendo ocasionar até mesmo sepse neonatal e problemas neurológicos, com maior chance de internação em UTI neonatal.
Fato é que as cesarianas no Brasil são bastante frequentes e muito acima do que prega a OMS. Em hospitais particulares do país, esse índice chega a 86%, correspondendo a 31 pontos percentuais a mais do que a média nacional, que também é altíssima. Investimentos em ações e campanhas sobre os riscos da antecipação do nascimento do bebê sem recomendação médica podem ajudar a mudar esse quadro.