O 21 de julho de 2024 entra para a história por ao menos dois acontecimentos: a desistência de Joe Biden em concorrer à reeleição dos Estados Unidos, causando uma reviravolta na disputa pela Casa Branca, e o anúncio de que tivemos o domingo mais quente já registrado na Terra nos últimos 84 anos, deixando ainda mais evidente que a urgência climática é pauta prioritária na agenda global. A sincronia deve seguir: qualquer líder ou pretendente político que desconsidere a crise ambiental precisa despertar ao menos um incômodo entre seus eleitores. Como têm feito as temperaturas extremas.


Segundo o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S), da União Europeia, no último domingo, a temperatura média global foi de 17,09ºC, superando em 0,01ºC o recorde anterior, em 6 de julho de 2023. Em menos de 24 horas, o limite foi ultrapassado novamente: 17,15ºC, na segunda-feira. Surpreende os estudiosos essa grande diferença entre os sucessivos aumentos de temperatura nos últimos 13 meses e o cenário anterior de recordes – antes de julho de 2023, a mais alta temperatura média global diária foi de 16,8°C, em 13 de agosto de 2016.


Ao Estado de Minas, o geólogo Marco Moraes alerta para o fato de que essa divergência nos termômetros preocupa porque 2016 enfrentou justamente o El Niño mais forte em 50 anos. O de agora é considerado “enfraquecido” desde o início do ano. Para Moraes, a sequência de temperaturas recordes em 2024 é “um sinal praticamente exclusivo do aquecimento global” em curso, e não de efeitos de fenômenos temporários.


No Brasil, este inverno deve ter 3ºC acima da média, prevê o Climatempo. As mais de mil cidades em condição de seca extrema e severa, o equivalente 20% dos municípios brasileiros, segundo dados do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), evidenciam o tamanho do problema que, como pontua o biólogo Paulo Jubilut precisa ser enfrentado com implementação de políticas ambientais eficazes, transição para fontes de energias renováveis e conservação de florestas.


Trump, que tirou os EUA do Acordo de Paris quando presidente, tem como uma das principais promessas de campanha aumentar as perfurações de petróleo e gás, consideradas energias poluentes. E ele não é o único líder a desmerecer os sinais da crise climática, apesar de a população parecer estar mais atenta à necessidade de enfrentar a questão.


Levantamento divulgado em junho pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud) revela que 80% da população global apoia que seus governos adotem medidas mais rigorosas contra a crise climática. A taxa do Brasil é maior do que a média global: 85%. A dos Estados Unidos, menor: 66%.
Tal como os norte-americanos, os brasileiros estão em ano de eleição. Estar atento a prefeitos sensíveis à urgência ambiental também faz parte de um movimento de engajamento internacional a favor do clima.

Temas corriqueiros das campanhas municipais, como a melhora do transporte público e a criação de bairros, precisam conter discussões que contemplem a pauta ambiental – o estímulo à mobilidade alternativa e à preservação de áreas verdes, por exemplo.


Vem do Rio Grande do Sul a prova de outra cobrança que é imprescindível por parte do eleitorado: a apresentação de um plano estruturado de contingência de eventos extremos. Presenciamos cenas em terras gaúchas inimagináveis e que, alerta o Copérnico, poderão ser superadas. O mundo entra, cada vez mais, em um “território desconhecido”. 

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